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Precisamente hoje, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) faz 46 anos. Em jeito de balanço, o bastonário da Ordem dos Médicos traçou um cenário negro. "Um hospital hoje funciona como funcionava quando o SNS foi criado em 1979", realça Carlos Cortes, para quem este serviço público é atualmente "uma grande urgência no país", o que faz com que Portugal seja um dos países que "têm mais consumo deste tipo de cuidados". Álvaro Almeida, diretor-executivo do SNS, deu recentemente uma entrevista ao JN e à TSF que vale a pena reler. Referindo-se ao caso do atendimento das grávidas, o responsável reconheceu que, por vezes, "falta um médico e fecha-se a urgência", devido aos padrões mínimos da Ordem para que determinado serviço esteja aberto. Num cenário sem mínimos, a decisão passaria para as mãos de quem sabe, isto é, a responsabilidade de tratar ou de transferir determinado paciente, por falta de capacidade da equipa ao serviço, seria dos médicos especialistas, não deixando que tantos partos ocorressem nas ambulâncias ou até na rua. Tudo por decisão dos bombeiros ou do INEM.Em 1979 ou, por exemplo, no início do século XXI, alguém ouvia falar deste problema de urgências obstétricas ou de ginecologia fechadas em toda a Margem Sul? Alguém ouvia falar de tarefeiros, por vezes inseridos em microempresas próprias, para tapar os buracos nas escalas das urgências? Alguém ouvia falar de médicos a ganhar fortunas com um sistema de marcação de cirurgias (SIGIC)? Alguém comentava como o salário-base de um médico era vergonhosamente baixo? Havia mais profissionais ao serviço e muito menos pressão por via de imigrantes, mas o setor público era o grande provedor. Pela nossa saúde, esperemos que o panorama melhore até ao 50.° aniversário do SNS.