O debate que ontem o JN promoveu sobre "A confiança", numa iniciativa conjunta com a Câmara Municipal de Valongo, centrou-se numa peça fulcral dos sistemas social e económico, da dinâmica da ciência - e da ação política.
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Dizia Aristóteles que a verdade é a única realidade. Ora, só com confiança pode haver acordo sobre a verdade - ou seja, sobre a realidade. A confiança está na base do conhecimento e está na base do processo social.
A coesão da comunidade estrutura-se na confiança nas narrativas que os membros da comunidade partilham: sem confiança na voz corrente - no meio de fake news, onde convivem verdades e verdades alternativas - a coesão dilui-se, os indivíduos ficam mais isolados e mais fracos, o contrato social decai.
A crise pandémica em Portugal é um exemplo dos resultados que a confiança produz. Portugal chegou a ser em janeiro um dos países com piores indicadores da covid-19 no Mundo. No entanto, a confiança no Estado, no Serviço Nacional de Saúde e na ciência que presidiram ao cumprimento das regras do estado de emergência inverteram a situação em tempo recorde: Portugal passou a ser o país com os melhores indicadores do Mundo.
O poder da confiança - na ciência, na autoridade do Estado, nos serviços públicos, nas autarquias e na informação transmitida pelos média - é, de facto, extraordinário!
A compreensão disto é essencial para um político! Se existe algo que os representantes da democracia de proximidade (autarcas como eu) aprenderam com esta crise foi a importância da confiança entre atores de diversos níveis, horizontais e verticais, para resolver problemas e construir soluções.
É preciso, pois, criar confiança. Desenganem-se os que pensam que a democracia é irreversível. As democracias são por natureza frágeis e requerem dedicação permanente. A confiança interpessoal e a confiança entre as pessoas e as instituições constituem um cimento decisivo para o equilíbrio, resistência e resiliência de tão extraordinária construção humana.
Dar dessa forma oportunidade às pessoas para confiarem mais uns nos outros é, não só um imperativo moral, mas o caminho certo para aumentar o conhecimento individual e coletivo e, dessa forma, seguir em frente.
A confiança é uma flor que tem de ser regada todos os dias com estudo, com trabalho, com debate de ideias, com respeito pelos outros, com cuidado pelos mais frágeis - com liberdade!
Só com confiança alguém se pode sentir livre! Livre, sem medos!
*Presidente da Câmara Municipal de Valongo