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Em 2011, Grécia e Costa do Marfim serão, com Portugal, os únicos países que não crescem. Fazendo jus ao princípio de que mais vale só do que mal acompanhado, em 2012 Portugal terá esse exclusivo. Uma vergonha, mas também uma oportunidade e um desafio. Estes dados confirmam que, ao contrário do que alguns clamam, não é o mundo que está em crise. Muito pelo contrário. A nossa excepção, se nos envergonha, não é, porém, nem fado nem fatalidade. O crescimento dos outros é uma imensa oportunidade que nos compete aproveitar. Não lideraremos, nem daremos novos mundos ao mundo. Vamos a reboque. No melhor dos cenários, podemos dizer que surfamos a onda. Não é altura nem para nos pormos com esquisitices, nem com bazófias de nobres falidos.
A procura mundial reforçar-se-á, novos mercados se abrirão e novos compradores emergirão para quem os souber identificar, servir e cativar. Não será por "estarmos à rasca" que o mundo comprará mais produtos portugueses. A piedade não faz parte das regras de jogo do mercado. Mantendo a terminologia, vamos ter de nos desenrascar, dar corda aos sapatos, azo à imaginação e alinhar as políticas com os desejos.
Um país pequeno que não seja rico em recursos, não se pode dar ao luxo de sonhar o isolamento. O "orgulhosamente sós" era uma mentira, alimentada pelas colónias. Até Cuba já percebeu que essa independência de fachada tem como contrapartida a pobreza.
A reboque de um Estado gastador, iludidos pelos juros baixos e crédito fácil e pelo maná dos fundos europeus, descurámos a necessidade de competir, perdemos capacidade de colocar os nossos produtos junto de compradores estrangeiros e de, cá dentro, fazer face aos produtos provenientes de fora. As nossas exportações cresceram pouco e, em contrapartida, importámos cada vez mais. A crédito, ficando a dever. Não foi só o Estado.
Há maneira de dar a volta a esta situação? Se tivéssemos moeda própria, já a teríamos desvalorizado, 20 ou 30 porcento. De um dia para o outro, tudo o que era importado ficava mais caro. Quem vivesse dos salários ficava mais pobre. Os outros ter-se-iam precavido, colocando o dinheiro lá fora. Hoje, não temos moeda própria e temos compromissos a respeitar, por razões da União Europeia mas não só. Não podemos subsidiar as exportações, nem impor direitos nas importações. Vamos ter de fazer pela vida. Baixar os custos de produção, sem baixar salários. Reduzindo a taxa social única? Passa o crivo da concorrência desleal? E o do FEEF/FMI? Baixando o IRC para quem exporta ou substitui importações? As mesmas perguntas. Trabalhando mais, pelo mesmo salário, não viola nenhum preceito. Pode ser uma saída expedita para os casos em que há mercado para os produtos. À empresa exigir-se-ia contas auditadas e que distribuísse parte dos eventuais resultados adicionais pelos colaboradores. Com o apoio das Ordens dos TOC e ROC, seria uma maneira de retirar mais empresas do domínio da informalidade. Quem achar que a ideia não é exequível que apresente uma outra. Estamos em tempo em que só criticar não basta!
P.S. Melhor mês de sempre em Leixões! Eppur si muove!