<p>"O Luís hoje não vem; está indisposto". E na semana seguinte: "Ele tem amanhã um julgamento importante. Vai fazer noitada para estudar o processo". E um mês depois: "Anda muito abalado com as notícias sobre o envolvimento no caso Portucale. Enquanto não for ilibado, não o incomodemos". À terceira tentativa, os membros da Direcção do CDS/ /PP devem ter desistido de fazer perguntas incómodas ao líder sobre a sistemática ausência do vice-presidente Luís Nobre Guedes. Se é que alguma vez as fizeram... </p>
Corpo do artigo
Terá sido assim durante um ano, após a demissão do ex-ministro do cargo no partido, de que só Paulo Portas teria conhecimento: não havendo perguntas atrevidas, poupa-se o interlocutor a respostas assentes em mentirinhas piedosas. O homem não aparece e ponto final! Sempre se gasta menos em mobiliário, porque fica a sobrar uma cadeira. Só faz falta quem cá está.
Valha a verdade que o Nobre Guedes vice-presidente do CDS não é o Nobre Guedes ministro do Ambiente. À vida partidária, pela qual nunca demonstrou especial apetência - ou melhor: que sempre encarou como uma "chatice" -, não fará grande falta. Fosse o seu contributo indispensável à concepção da estratégia política do partido e alguém da direcção teria tido a ousadia de insistir com Paulo Portas para que revelasse as razões de tão prolongado "gazetismo".
Sabendo-se da velha amizade entre Portas e Guedes, o episódio não serve a tese do "mais vale só do que mal acompanhado". Pode é ajudar a consolidar a ideia de que o CDS é cada vez mais um partido de um só homem (ou de um homem só?). O próprio Portas, um dia destes, também atira a toalha ao chão...
O ponto, no entanto, não é (só) esse. O que está essencialmente em causa na demissão mantida em segredo resume-se numa palavra: confiança. Confiança entre membros da cúpula de um partido, supostamente escolhidos porque Paulo Portas lhes podia emprestar a carteira, mas que nem da saída de um parceiro podem saber. Confiança, essa bem mais importante, dos eleitores nos políticos que os representam. Quem vota num partido cujo presidente toma uma atitude destas?
Imagine-se um governo liderado por Paulo Portas no qual o ministro da Defesa (pode ser o da Defesa, só por comodidade de descrição de uma história fictícia) desaparecesse de circulação durante uns tempos. O que diria Portas em Conselho de Ministros? Que sim, que era verdade, mas não contassem a ninguém, em nome da solidariedade institucional? Ou que se mantivessem tranquilos, porque mais tarde ou mais cedo o ministro reapareceria com um contrato de dez aviões de combate e oito tanques, que estaria a negociar em local secreto?