Devido ao frio dos últimos dias, as câmaras municipais como Lisboa, Coimbra, Faro, Braga, entre outras, manifestaram a sua atenção em relação às populações vulneráveis, em especial às pessoas em condição de sem abrigo, ativando os planos de contingência para garantir respostas humanitárias.
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No Porto, a narrativa baseada num indicador cego mostra que é o indicador que decide. Ora, um indicador indica, um presidente da Câmara decide. Este indicador baseia-se apenas na monitorização da temperatura ambiente, ignorando a temperatura sentida, que é o único indicador acessível que refere a reação do corpo humano ao frio, à humidade, ao vento polar. Considerar apenas a temperatura ambiente é um erro. A referência para que um plano de respostas adicionais seja ativado já foi 0 graus e agora é 3 graus durante três dias consecutivos, mas há sempre imprecisões na medição e previsão, portanto, estes indicadores servem apenas para alertar os decisores.
Noutros municípios bastou a aproximação dos valores da temperatura ao indicador para serem acionados os planos de contingência. No Porto, o decisor ficou preso ao rigor matemático. Mas, se o indicador não foi atingido por pouco no Porto, ninguém duvida de que quem dorme na rua sentiu muito frio nestes dias.
A narrativa do executivo municipal, agarrada a critérios simplistas e inflexíveis, prolonga outras decisões relativas a pessoas que no Aleixo viviam em tendas e para as quais não houve qualquer planeamento. Estas pessoas (agora visíveis), que tiveram de sair do Aleixo e que têm causado constrangimentos a outros moradores, têm um passado de decisões políticas que não pode ser esquecido. Não é com a perseguição que os problemas irão desaparecer. Nem com a política de americanização do Porto, com os grandes espaços comerciais ou com a desumanização das decisões políticas.
Pode-se chegar ao melhor indicador possível, mas se não houver a vontade política de mitigar o sofrimento das pessoas em situação de sem abrigo, algo está profundamente errado na gestão da cidade.
*Dirigente do PAN