Corpo do artigo
A semana foi marcada pelo debate e aprovação do programa do Governo no Parlamento. Deu para perceber que o novo Executivo terá uma vida agitada para manter o apoio dos partidos que, à sua esquerda o suportam, e enfrentar uma Oposição crispada e ressabiada. Concentração e determinação serão decisivas para manter o rumo de uma governação que terá que resolver os muitos e sérios problemas que o país enfrenta. Daí que, lembrando a célebre frase de Séneca, que dá título a esta nota, importa que o Governo tenha bem claras as suas prioridades e as políticas a prosseguir. Dentre os muitos desafios a vencer, destaco dois que considero decisivos para o sucesso da governação e para o futuro do país: a política orçamental e a estabilidade do sistema financeiro.
A crise tem revelado bem a forte interação que existe entre ambos: o mau desempenho orçamental fragiliza o sistema bancário e bancos frágeis são uma ameaça séria para a saúde das finanças públicas. Durante o debate, o Governo reafirmou que o país respeitará os compromissos europeus nesta matéria. O respeito por tais compromissos é importante, não porque é uma obrigação imposta pelos nossos parceiros mas, sobretudo, porque é essencial para a confiança na economia portuguesa e para a sua estabilidade financeira. No passado fim de semana, as declarações do primeiro-ministro, em Bruxelas, e do ministro das Finanças, no Algarve, revelaram o alinhamento existente entre ambos no que toca à redução do défice e da dívida. Um alinhamento político fundamental que mostra que sabem para onde devem ir.
Durante esta semana tivemos também notícias sobre o sistema bancário que devem merecer a nossa atenção e preocupação. Foi noticiado que a Caixa Geral de Depósitos avançou com uma proposta de venda de 49% das suas operações no exterior para poder financiar o aumento de capital de que necessita. Soubemos que o Banif continua à procura de um parceiro que injete capital na instituição. Por fim, o Novo Banco apresentou já um plano de restruturação e de capitalização para suprir a insuficiência de capital de 1,4 mil milhões de euros revelada pelos "stress tests" do BCE. Estas notícias indiciam a persistência de fragilidades no nosso sistema bancário, que não cessou ainda de ver aumentar o seu crédito malparado. Fragilidades que dificultam a concessão de crédito, asfixiando a economia. Ultrapassá-las deve ser uma prioridade a bem da economia. A Espanha fê-lo e está agora a crescer de forma muito significativa. Constitui por isso um bom exemplo que poderá inspirar as autoridades portuguesas.
Este é mais um desafio em que se espera que o Governo saiba para onde vai. Se não souber, os ventos serão hostis e seremos fustigados por eles.
ECONOMISTA