Sobre o difícil caminho da inovação em saúde
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De forma que julgo genuína, a preocupação com a promoção da saúde e a prevenção da doença começa a ganhar voz, espaço e atenção no seio da vasta e complexa tribo da saúde, assumindo-se como uma resposta inteligente aos grandes desafios que estão aí para serem afrontados.
Os desafios são claros e passam sobretudo por assegurar e, desejavelmente, projetar para as próximas gerações a sustentabilidade dos sistemas de saúde face à combinação explosiva da pressão demográfica com a exigência de mais e melhores cuidados.
Entre as respostas disponíveis, julgo que a primeira e mais óbvia é a de deitarmos mão, tão rápido quanto possível, ao manancial de tecnologia que, felizmente, está à disposição - para o que, entre muitos outros requisitos, vamos ter de ser capazes de agilizar e, de forma inteligente, acomodar o desenho e o cumprimento da necessária camada regulamentar de proteção do cidadão.
Além deste nível de resposta, têm, felizmente, vindo a ganhar visibilidade, credibilidade e, de forma crescente, espaço e protagonismo no planeamento, mais ou menos estratégico, dos decisores e atores da saúde as abordagens que privilegiam o prevenir face ao tratar, e as que se centram na promoção de estilos de vida mais saudáveis.
Mas ainda falta muito. De facto, não chega estarmos todos, ou quase todos de acordo que este é um dos caminhos. Falta passar à ação, falta mudar paradigmas e comportamentos. Falta ainda o mais difícil, concretizar o ciclo da inovação: transformar o conhecimento em produtos e em serviços competitivos, no mercado global, que respondam às necessidades dos cidadãos e dos doentes nestes domínios.
O tema é complexo e muito desafiador, mas é por aqui que temos persistente e resilientemente de ir: cooperação ativa e efetiva entre a ciência, a prestação de cuidados e as empresas, em iniciativas estrategicamente orientadas ao mercado, leia-se às já referidas necessidades dos cidadãos e dos doentes. Se assim não for, estaremos a desperdiçar tempo e recursos, boa parte dos quais, em regra, são públicos.
É um enorme esforço coletivo que não podemos deixar de continuar a fazer, aprofundando-o em exigência, rigor e prestação de contas.
Julgo que neste contexto merece nota de referência pela positiva a Agenda Mobilizadora Health from Portugal (https://www.healthfromportugal.pt/pt/) que, debaixo de um caderno de encargos muito ambicioso onde tem forte peso o desenvolvimento de soluções para dar suporte ao que poderíamos designar por uma prevenção 2.0, instrumentalizada e de última geração, reúne 87 parceiros de referência no ecossistema nacional de inovação em saúde, nomeadamente: empresas, universidades, institutos de investigação e hospitais.
Trata-se de uma iniciativa apoiada no âmbito do PRR onde, com um orçamento global na casa dos 90 milhões de euros, estes 87 parceiros estão a desenvolver mais 100 produtos ou serviços que a partir do próximo ano estarão a ser lançados no mercado global.
Boa parte destes resultados serão apresentados publicamente nos próximos dias 28 e 29, no Porto, na Conferência Internacional Innovating Health Together - Tech-Enabled Prevention for a Better Future, promovida pelo Health Cluster Portugal.