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O PCP é o único partido que não mudou desde 1974, ou melhor, desde 1921, ano fundacional. Marxista-leninista, convive transitoriamente com a democracia, "educando os seus membros" - expressão estatutária - no objetivo supremo da construção do comunismo unipartidário.
Tudo o que disse e foi, é e mantém. E nenhum comunista se atreverá, sequer, a contestar o pensamento ou as previsões, mesmo que pouco proféticas, de Álvaro Cunhal imortalizado na Soeiro Pereira Gomes, como Kim Il-sung é venerado pelo regime norte-coreano.
Entrevistado em 1975 durante o PREC por Oriana Fallaci, Cunhal esclarecia:
- "As eleições para mim não têm qualquer importância, nenhuma mesmo (...) Se pensa que o PS com os seus 40% e o PPD com os seus 27% compõem a maioria, está a cometer um erro. Eles não têm a maioria (...) Prometo-lhe que em Portugal não haverá qualquer parlamento".
A ameaça não se concretizou, não por falta de empenho dos comunistas, mas pela resistência dos democratas que fizeram o 25 de Novembro. Desde então, o PS foi a fronteira do socialismo democrático, em relação à possibilidade de afirmação do radicalismo à sua esquerda. É por isso que 40 anos depois, custa vê-lo assim vergado, sacrificado na capitulação às exigências de PCP e BE, apenas para que um secretário-geral derrotado possa ser primeiro-ministro.
Quem manda hoje no PS é o comité central do PCP e dependendo dos dias, um grupo difuso que se diz feito de cidadãos e cidadãs, coordenado no BE por uma atriz permanentemente em cena. A dependência política de António Costa, empenhado em sobreviver a qualquer custo, dará eficácia legislativa à extrema-esquerda, naquilo que em condições normais não passaria a dimensão de protesto. Portugal pagará. E não será pouco.
Sócrates, ovacionado de pé por dirigentes e militantes socialistas, reapareceu para dar apoio a António Costa, que por seu lado, ovacionado por comunistas - com sapos atravessados na garganta - e bloquistas, discursou no Parlamento para anunciar a queda do Governo legítimo de Portugal.
Como Álvaro Cunhal em 1975, garantem juntos em 2015 que a coligação que venceu com 36,86 % dos votos, afinal, perdeu. E exultam, enquanto apoucam o presidente da República.
Três acordos feitos de segredo por vergonha recíproca e três moções de rejeição, a par de um líder dos derrotados não confiável, que nem no mais importante dos debates parlamentares teve coragem de dar a cara, sujeitando-se ao mais do que devido contraditório, revelam a falta de denominadores comuns.
Nesta Esquerda, solução estável e duradoura só por anedota.