Corpo do artigo
Quer se queira quer não, é isso que tem feito António Costa. Avança por aí adiante com a ligeireza de quem tem por detrás uma data de gente insuspeita a ajudar, que é como diz o presidente atuante, a Esquerda embrulhada e Passos Coelho expressamente colaborante e subitamente menos convencional.
Na última semana:
- na entrevista à SIC o jornalista José Gomes Ferreira não percebeu que a tática de tentar emparedar o entrevistado com números não chega; como foi fácil de ver, a cada tacada António Costa respondia, ou com o detalhe das contas (como no caso da explicação sobre a alegada queda nas exportações), ou com o reverso da medalha (no caso dos indicadores macroeconómicos), ou seja, com o preço que os portugueses pagaram pela baixa do défice, da dívida ou dos juros. Nas questões políticas, a calma com que António Costa se assume líder de uma geringonça, por natureza imperfeita, vira o feitiço contra o feiticeiro e empareda o entrevistador num beco sem saída;
- claro que há sempre as questões europeias; na verdade as únicas que interessam. Mas nem aí António Costa está sozinho. Seja por maquinação de bastidor do nosso presidente da República, seja por convergência pura de interesses futuros, seja por puro sentido de defesa do interesse nacional, eis que Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque assumem, por escrito, a injustiça das sanções a aplicar por efeito de erros retroativos; em abono da verdade, neste caso António Costa retribui, renegando os efeitos panfletários desta potencial derrota da governação 2013-2015, dizendo que não pode Bruxelas castigar quem apenas se limitou a aceitar usar o colete de forças;
- para completar a semana de benesses, e numa matéria de costumes levada a votação no Parlamento - a gestação de substituição (vulgo "barrigas de aluguer") - eis que o anterior primeiro-ministro , aparentemente tradicional e, sobretudo, alinhado com uma pauta ideológica moderadamente progressista nestas matérias, viabiliza uma votação (com um conjunto de outros deputados sociais-democratas) proposta e defendida pela Esquerda mais radical;
E por agora, a António Costa isto basta: pairar sobre um campo minado que só a Alemanha pode desarmar, com a graça colorida de uma ventoinha que roda porque outros sopram.
A António Costa basta pairar sobre um campo minado que só a Alemanha pode desarmar, com a graça colorida de uma ventoinha que roda porque outros sopram.
ANALISTA FINANCEIRA