Sombras chinesas, novos episódios
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Em finais de agosto passado escrevi sobre a importância da China na economia mundial. Na altura vivia-se um período de queda no índice da Bolsa de Xangai ao mesmo tempo que a sua economia desacelerava. A mudança em curso de um modelo de crescimento assente na dinâmica do investimento e da exportação para um modelo mais assente no consumo e nos serviços está na origem desta desaceleração. Em consequência do menor crescimento chinês, assistimos a uma quebra na procura internacional de matérias-primas e de petróleo, fazendo baixar significativamente os seus preços, o que acaba por ter um forte impacto negativo nas economias produtoras desses bens. Aquela diminuição do crescimento propaga-se assim a outras economias, designadamente, emergentes e em desenvolvimento. Não surpreende pois que, nos últimos anos, o FMI tenha revisto sistematicamente em baixa o crescimento da economia mundial e, em especial, das economias emergentes. Fê-lo mais uma uma vez nas perspetivas económicas mundiais divulgadas em outubro passado.
Porém, tudo leva agora a crer que em 2016 o desempenho das economias poderá ser pior do que então se esperava. Com efeito, o início deste ano foi marcado por fortes quedas nas bolsas chinesa e mundiais que refletem receios quanto à evolução económica da China, ao comportamento do câmbio da sua moeda (o renminbi), à evolução de outras economias como o Brasil e a Federação Russa, etc. Nos últimos dias vários analistas têm alertado para cenários de maior desaceleração do crescimento mundial em 2016. Poderemos ser também confrontados com fenómenos de instabilidade cambial e financeira resultantes de saídas massivas de capital das economias emergentes.
Nos últimos anos, a política monetária expansionista dos Estado Unidos gerou uma bolha de crédito ao canalizar montantes avultados de financiamento para estas economias. Por exemplo, desde 2008-2009, a dívida do setor não-financeiro chinês aumentou de cerca de 100% para 250% do PIB. Algo de semelhante se passou noutros países. A apreciação do dólar e a depreciação do renminbi estão a arrastar a depreciação de outras moedas. O peso das dívidas em várias economias emergentes, denominadas em dólar, está a aumentar tornando-as cada vez mais insustentáveis. Se a isto acrescentarmos as massivas fugas de capital, o cenário de rutura financeira torna-se cada vez mais provável. O fraco desempenho económico e a depreciação das moedas podem despoletar uma séria crise da dívida. Depois da crise da dívida do subprime tivemos a crise da dívida soberana. Será que vamos ter a seguir uma crise da dívida das economias emergentes?