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Nos últimos 30 anos, a economia mundial foi profundamente marcada por dois eventos relevantes: a queda do Muro de Berlim e a entrada da China na Organização Mundial do Comércio. O primeiro conduziu ao desmembramento do bloco soviético e da sua influência no Mundo, alargando o leque de países empenhados na liberalização do comércio e dos movimentos de capital. O segundo marcou a participação influente da China neste processo de globalização a partir de 2001. No início do novo século, a economia chinesa era a sexta maior do Mundo, com um PIB que representava cerca de 4% do PIB mundial. Atualmente representa 15%, atrás dos Estados Unidos e à frente do Japão, que representam, respetivamente, 24% e quase 6% do produto mundial.
Este forte crescimento da economia chinesa contribuiu de forma decisiva para o crescimento mundial. O contínuo aumento da procura chinesa de matérias- primas, fontes de energia e produtos manufaturados oriundos de outras economias estimulou o crescimento do Mundo desenvolvido e em desenvolvimento. Por outro lado, os excedentes externos da China permitiram-lhe a acumulação de meios financeiros substanciais que lhe proporcionaram grande capacidade de financiamento externo e, consequentemente, uma presença significativa nos mercados financeiros mundiais. Aliás, Portugal tem beneficiado recentemente deste potencial de financiamento.
Não surpreende, portanto, a perturbação que se tem vivido ultimamente face às perspetivas de desaceleração do crescimento da China. Menor crescimento implicará a redução das importações chinesas, ou seja, o resto do Mundo venderá menos à China, prejudicando as perspetivas de negócio mundiais. A recente evolução dos preços das matérias-primas e outros bens, em especial do petróleo, refletem já essa situação. Essa desaceleração é a questão central, não o esvaziamento da bolha bolsista de Xangai que, apesar disso, está cerca de 50% acima do que estava no início de 2014.
É ainda cedo para avaliar todas as consequências desta turbulência nas nossas economias. Mas duas conclusões me parecem óbvias. Primeiro, o maior peso da China no contexto da economia mundial, legitima a sua pretensão para que tenha uma voz mais ativa e influente nas instituições económicas e financeiras internacionais (FMI, OCDE, etc.). Segundo, uma vez que as suas políticas não se limitam a afetar a sua economia e afetam também o desempenho da economia global, a China, a par das outras potências, é também responsável pela estabilidade económica e financeira internacional. Por isso são bem-vindas as iniciativas de estímulo que promovam o seu crescimento robusto e sustentado assente na expansão da procura interna.