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A diferença é esta. Quer queiram quer não, a marca Futebol Clube do Porto transcende a dimensão estritamente desportiva.
Esta semana foi semana de Dragões de Ouro e sentiu quem lá esteve, estou certa, que a celebração anual do clube vai para além do merecido reconhecimento dos valores individuais e coletivos, desportivos, técnicos, amadores ou profissionais.
Quer se queira quer não, e provavelmente por influência direta da liderança de Pinto da Costa, a sala enche-se sempre de referências pessoais e institucionais a um território que, para além da cidade do Porto, abrange todos os territórios que lutam por autonomia, diferenciação, contraste e resiliente insubmissão a um qualquer poder central ou, mais do que isso, a uma qualquer predeterminação do direito à vitória.
O discurso do presidente, apelando à luta constante e ao desprezo dos arautos da morte anunciada, contribui de forma positiva para um estado de alerta que urge manter num país severamente míope aos seus espaços mais dinâmicos, mais jovens, mais inovadores e mais produtivos.
E depois o FCP dá o exemplo. Como dizia Júlio Magalhães, há mais de vinte canais de televisão a funcionar em Lisboa e apenas um a funcionar fora de Lisboa. No Porto. Por risco assumido do Futebol Clube do Porto. Só não verá quem não quiser que esta opção corresponde a um ato deliberado de empoderamento do território, a um investimento líquido de uma entidade que, não sendo política, faz política, com P grande.
E é esta dimensão invulgar que faz do Futebol Clube do Porto um Clube com um poder de convocatória muito superior ao de qualquer congénere. E é exatamente a este poder de convocatória que nenhum líder político local ou regional deve resistir.
Foi, por isso, bom rever muitos dos presidentes de Câmara do Norte de Portugal e, em especial, o senhor presidente da Câmara do Porto.
O desafio é, pois, não o de abandonar esta dimensão territorial que em nada apouca a vocação universal do clube, mas a implementação de novas formas de ligação com a comunidade, próxima e longínqua.
Novas formas de comunicar, de aproximar, de produzir que facilitem a participação alargada nesta construção identitária tão poderosa.
Para que, cada vez mais forte e mais alargada, possa influenciar definitivamente o progresso de um país descentralizado, autónomo e orgulhosamente diferente de norte a sul.
Longa vida, presidente!
ANALISTA FINANCEIRA