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Passaram 252 dias. A dívida aumentou para valores absurdos, o Governo reclama a remoção de um juiz que deferiu uma providência cautelar contrariando a tese do ministro da Educação sobre os contratos de associação e o IMI vai ser agravado no critério das vistas bonitas e da exposição solar.
Não foi na Venezuela. Podia, é verdade. Acontece em Portugal.
Nos trópicos, o regime socialista de Maduro também arruinou o país em três penadas, trata quem se lhe opõe como se sabe e se ainda não lhe ocorreu tributar as contingências da natureza, decretou trabalho forçado no campo, para combater a fome que trouxe ao povo.
Já por cá, com a Esquerda extasiada pela deriva venezuelana, a aventura grega do Syriza e o delírio comunista do Podemos, a inspiração frutificou. E o disparate acontece todos os dias.
A Constituição obriga à separação de poderes. É suposto o poder judicial ser independente e o poder político não interferir nas decisões dos tribunais . O Governo não gostou da decisão legítima de um juiz. Mas em vez de contestar a decisão, tentou remover o juiz. Alguém recorda como quando em causa esteve o mesmo tema, mas outra juíza, que foi dirigente, candidata autárquica e assessora em governos do PS, não houve drama?
Com o PSD e o CDS no Governo, a dívida pública era a tragédia. Não importava a troika que o PS trouxe, nem a saída "limpa" que a Direita conseguiu. Agora, com o PS no poder a dívida bateu todos os recordes. Mas dívida má, claro, só a dos outros.
O IMI, por seu lado, comprova que quando o preconceito ideológico se mistura com um resquício saudosista da luta de classes, a estupidez é possível.
A Esquerda pode aumentar impostos, mesmo sem troika. Tem sido assim a propósito de muitos e ao contrário do que sucedia quando a Direita aplicava o programa de ajustamento que o PS negociou, a CGTP já não sai à rua. Mesmo assim, se a beleza ou o clima ascendem a critérios prioritários de agravamento fiscal, preparemo-nos para tudo.
A propósito. A Esquerda adora grafítis. Chama-lhes "arte mural". Eu detesto grafítis. Imaginem-se agora as casas com vista para os muros mais "pichados" da cidade. Qualquer cidade. Isto do IMI poder ser aumentado à conta do peculiar (mau) gosto dos outros tem muito que se lhe diga.
Sendo que se num país soalheiro, beneficiar do sol ou da vista ascende à categoria de privilégio, ninguém estranhe caso um destes dias também o primeiro-ministro encontre no canto de um passarinho a reveladora manifestação do Além.
Portugal e a Venezuela começam a ficar perigosamente parecidos.
*DEPUTADO EUROPEU