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Assistimos por estas semanas a um ataque cerrado à nossa economia, com a credibilidade do Estado português a ser posta em causa. Tudo por culpa das forças helénicas (e ainda chegarei ao mea culpa). Mas não só.
Na sequência das desanimadoras previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) - que basicamente colocam a economia portuguesa em estado anémico e o desemprego numa escalada insustentável -, o diário espanhol "El País" deu-nos honras de manchete. "A crise agudiza-se e o contágio chega a Portugal". Dizem "nuestros hermanos" que somos a próxima vítima.
Uma página à frente, assume que "Espanha será o sétimo país do Mundo com a recuperação mais débil". Pior do que nós, explique-se - enquanto o FMI estima um crescimento negativo do PIB espanhol de 0,4%, Portugal fica em terreno positivo, mas bem abaixo das previsões do Governo, nos 0,3%.
Perante a análise dos factos, decidi comprar o concorrente "El Mundo". Não levou o assunto à primeira página e não nos colocou na lista de malfeitores da União Económica e Monetária. Sob o título "Espanha entre as 18 economias do planeta que não crescem em 2010", escreve o seguinte: "Até Portugal, um país cuja dívida sofreu uma quebra na sua qualificação pelas agências de rating, regista um crescimento positivo, ainda que mínimo".
Vamos a factos, e seguindo os critérios do FMI. A seguir à Grécia, Portugal é o país que mais ameaça a estabilidade da Zona Euro. Segue-se Espanha. Quanto a crescimentos económicos, estamos conversados. Portugal deverá ter este ano uma taxa de desemprego de 11% e Espanha de 19,4%. Ao que acrescem novos dados, desta feita de Bruxelas, relativos ao défice. Portugal 9,4%, Espanha 11,2% do PIB.
Estarei eu a querer dizer que estamos melhor do que Espanha? De todo. Apenas sublinhar que somos todos PIGS (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha - grupo de países com grandes dificuldades orçamentais). E se tudo e todos dizem que Portugal pode ser a próxima Grécia, não é menos verdade que o rótulo tenha já sido colado a Espanha.
Como disse o economista Silva Lopes, "estamos a ser alvo de um ataque especulativo, mas a culpa é nossa". Porque vivemos à grande e à francesa. Porque desde que aderimos ao temido euro esbanjamos sem salvaguardar a poupança. E, vendidos os anéis e os dedos, endividamo-nos - Estado e privados. A tudo isto somam-se as baixas qualificações dos nossos políticos que, ora no Poder ora na Oposição, empurram os problemas com a barriga e assobiam para o lado. E a eles exige-se o exemplo. Com ou sem maioria, há uma coisa chamada Pacto, o pacto que todos assumiram com o país e não cumprem.