Os resultados das eleições britânicas de dia 7 foram mesmo surpreendentes. Andaram a prometer-nos durante semanas tudo muito renhido, podem ganhar os conservadores mas até podem ganhar os trabalhistas, aquilo está 33-32 e por aí adiante.
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E no fim, isto é, no princípio (quando as pessoas votaram mesmo) os conservadores ganharam por goleada e, para além de continuarem no Governo, já nem precisam de mais ninguém. Conseguiram a maioria absoluta. Sem espinhas.
Foram feitas dezenas de sondagens, para que antes do voto pudesse saber-se quem ia para o panteão ou para o inferno. Mais ou menos como ler o fim do livro mal se compra ou carregar no fast forward do comando. Para quê esperar pela realidade se é possível tomar-lhe o sabor antes de acontecer?
Estava tudo decidido. O Parlamento ia ser um caos, as maiorias impossíveis, os conservadores, pobres diabos, não arranjavam ninguém que os quisesse. Já se viu: os patetas dos eleitores devem ter amuado com as empresas de sondagens. Agora vai dizer-se que foi porque a "antecipação" da realidade levou as pessoas a reforçarem a aposta no cavalo ganhador. Ou vai insinuar-se que alguns eleitores malandrecos aldrabam aqueles que lhe perguntam em quem vão colocar a cruz. Feitas as contas, a culpa é dos eleitores e da realidade.
Talvez, mas não se deixe de lado outra coisa importante: o fiasco monumental das sondagens. Monumental, mesmo. Mais ou menos tão grande como o daquelas sondagens sapientes que, nas autárquicas de 2013, punham a ganhar, até dias antes das eleições, todos os candidatos. Todos, não. Todos, menos aquele que veio a ganhar por muitos e é hoje presidente da Câmara.
No Reino Unido, as empresas de sondagens não estiveram envolvidas numa daquelas conspirações políticas que às vezes aparecem nos filmes de série B. Não, foram apenas incompetentes.
Podem agora dizer: ó amigo, acontece, isto não é uma ciência exata, qualquer um se pode enganar. Só há um, talvez dois problemas. O primeiro é que o "valor" do negócio das sondagens é, justamente, fazerem-nos acreditar que são infalíveis. O segundo é o de que, como no caso deste lindo servicinho britânico, as sondagens são apresentadas como exercício prático fundamental do direito a informar. Direito a quê?
PROFESSOR UNIVERSITÁRIO