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A recente visita de António Costa à Grécia foi uma ótima notícia para Alexis Tsipras e um erro trágico para Portugal. O primeiro-ministro das nossas esquerdas podia ter optado por uma fotografia entre países iguais, ou parecidos, na Irlanda, que como Portugal cumpriu o ciclo de ajustamento com sucesso e se juntou ao conjunto de nações livres da intervenção externa. Mas não. Preferiu estender a geringonça além-fronteiras e dar a mão a Tsipras, que é como quem diz ao BE de lá, achando normal a confusão com Grécia do Syriza.
Concluindo sobre o encontro disseram:
"Nós, como primeiros-ministros de dois países com uma experiência política semelhante no contexto dos respetivos programas de ajustamento, partilhamos a convicção de que as políticas de austeridade são erradas e insuficientes para superar os desafios existentes".
Nada mais falso, contudo. Ninguém de bom senso deseja políticas de austeridade. Mas se os países foram, ambos, sujeitos a programas de ajustamento, é evidente que as experiências políticas no seu contexto ficaram a anos-luz de diferença. Dizer o contrário, para além do disparate, não ajuda a Grécia e prejudica Portugal.
- Portugal teve um só resgate. A Grécia vai no terceiro.
- A troika saiu de Portugal em 17 de maio de 2014. A Grécia continua sob assistência, discutindo novas medidas adicionais.
- Até há seis meses, Portugal financiava-se em diferentes prazos, com as mais baixas taxas de juro da Zona Euro. A Grécia está longe disso.
- Portugal nunca teve perdões de dívida. A Grécia teve a seu tempo um perdão de metade da dívida, que na benesse foi superior à totalidade da ajuda externa ao nosso país Quando a confiança vale ouro, António Costa permite-se contaminar a que Portugal conquistou, cumprindo, com a colagem a uma tragédia que é grega, porque a seu tempo houve quem se convencesse que um país se pode governar com proclamações revolucionárias, em vez de contas bem feitas.
Paradoxalmente, o governante português escolheu para parceiro na luta contra a austeridade quem venceu eleições gritando que "o Sol voltou à Grécia" e "a Grécia não mais se curvará à vontade dos credores", mas já somou mais cortes de salários e pensões e aumentos de impostos e privatizações que jurava não faria, do que qualquer outro governante antes de si.
Há um ano, António Costa dizia que "a vitória do Syriza é um sinal de mudança que dá força para seguir a mesma linha". Tem cumprido. E desde que o PS é poder, as perspetivas sobre a economia portuguesa degradam-se todos os meses.
Cada um escolhe os amigos que quer.
DEPUTADO EUROPEU