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Sou homem. E ler a frase “nem era totalmente antiaborto, mas depois desta merda toda, acabei por perceber que vocês são só umas p**** que querem levar na c*** sem consequência” deixa-me receoso.
Sou marido. Pai de uma mulher. Mas nem precisaria de o ser para sentir o peso daquelas palavras. Não apenas pelo insulto, mas sobretudo pelo espaço que o discurso de ódio contra as mulheres está a ganhar na sociedade. Pela construção de um ideal machista e pela normalização de preconceitos alimentados pela desinformação. Mesmo que seja só para ganhar visibilidade ou likes, o assunto é demasiado sério para ser ignorado.
A frase foi escrita por um influencer após um spot publicitário antiaborto ter sido exibido em canais de televisão e sites portugueses, originando milhares de queixas à ERC.
O mesmo indivíduo tem vindo a alimentar outros estereótipos do género. Defende que “mulher que namora não sai à noite” e não entende porque é que as mulheres “haveriam de se produzir (…) para irem para um sítio que sabem que vai estar cheio de homens”.
Os argumentos não são apenas opiniões. São um reflexo cru de uma cultura incel, egoísta e irresponsável, que se recusa a respeitar. Que acha que o corpo de uma mulher é debate público.
A Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género fala de discurso de ódio e apresentou queixa junto do Ministério Público. Ainda bem que o fez. Não podemos permitir que um grupo de homens cheios de raiva tenham o seu palco impune. Sou homem e tenho o dever de escrever. De estar do lado certo. Porque o silêncio, nestes casos, seria cobarde.