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"Sou rei porque sou o Presidente em funções. Deixei bem claro que o próximo Governo só será diferente do que agora o é se provar cumprir, para quatro anos, uma check list muito concreta, que me dei ao trabalho de organizar para que nada falhe. Se eu quiser, provo com facilidade que não foi salvaguardado no acordo das esquerdas a exata compensação das liberalidades que apregoam. E se eu quiser também provo que estabilidade não é garantir o acordo tripartido de cada lei que quiser aprovar ou de cada medida que quiser implementar. Sim, a maioria parlamentar conta e deve ser respeitada mas a Constituição fez-me rei da República".
"Sou rei porque serei o próximo Presidente em funções. Tenho o poder de desfazer o que me chegar, se não gostar. Mas talvez goste do que não seria suposto gostar. Talvez acredite na estabilidade à Esquerda e talvez esteja farto dos meus antigos companheiros. Talvez me façam rei porque pareço de Direita e talvez me mantenha rei porque não sou de Direita, tenho obrigação de ser de todos e ser de Direita nunca me rendeu muitos êxitos. E depois, na verdade, um Governo a quatro sempre me dá muito tempo de antena. A minha intervenção não será uma imposição mas uma obrigação. Realmente necessária. Tenho é de estar calado. E eu nunca gostei do silêncio".
"Sou rei porque ninguém está a contar que me candidate. Mas não há garantias de um candidato que defenda os bons costumes. O centro-direita parece que se esfumou. Todos aceitam este ataque ao castelo e ninguém se mexe. É preciso garantir que isto não dura. É preciso que alguém anuncie que vai convocar eleições mal seja eleito. Julgam que me adormecem, que me entalam na cadeira da bancada parlamentar. Estão enganados. Isto deu-me ganas. Há que lutar. Vou-me candidatar, vou ganhar e vou ser rei porque quem ri por último ri melhor".
Pensamento imaginário de um Presidente, de um candidato e de um animal ferido, mas resistente.
Pode ser que se verifiquem, pode ser que não. Mas por estes dias é uma espécie de absolutismo presidencial o que nos deixa em suspenso, à medida que, como diz Adriano Moreira, cada peça do puzzle, em tom negativo e lúgubre, nos surpreende com aquilo de que já estávamos à espera.