A política portuguesa está muito quente. Há muitas acusações a precisarem de ser provadas. Há muita afirmação inconsequente que mais não é do que pingos de gasolina numa fogueira já alta.
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Há vaidades de quem se julga protagonista e que só provocam mais ruído em toda a cena. Há explicações que se dão e ninguém quer ouvir. Há silêncios sobre coisas essenciais que deveriam ser interrompidos. Há muita gente a querer decidir o que não lhe compete. O que o país precisa é que se pare este turbilhão. Que se desligue este forno, porque o soufflé político cresceu tanto que pode rebentar sem remédio.
É preciso voltar à política. É preciso que os actores políticos encontrem soluções, de acordo com as ideologias que perfilham, após os debates que devem promover entre si. É preciso pôr cobro a uma certa hipocrisia, porque é evidente para todos que ninguém quer disputar eleições agora, pouco interessando que o PS ameace retirar-se para eleições ou que a Oposição ameace funcionar em bloco para fazer cair o Governo. Ao menos, aí há o bom senso que pode ser o início de alguma acalmia: os partidos sabem que eleições não mudarão grande coisa e que, pelo contrário, poderão causar mais prejuízo ao país. Há, por isso, que seguir em frente, reduzindo a crispação para um nível que torne possível ao Governo governar e não impeça a Oposição de cumprir o seu papel.
Reduzir a crispação não significa que a Justiça deva esquecer o que está sobre a mesa para ser apurado. Mas, mais do que nunca, também a Justiça precisa de silêncio e de rigor para fazer o seu caminho suscitando menos dúvidas.
A democracia faz-se obviamente, com os partidos. Mas não só. É em alturas como esta que fazem sentido palavras como as que proferiu Fernando Nobre. Pouco importa se a candidatura presidencial do líder da AMI fará caminho. Pouco importa, por agora, apurar se a candidatura abre caminho a um populismo perigoso, que pode ser perigoso. Atente-se nas suas palavras, porque, ditas neste momento, são certeiras. Candidatando-se contra o "sufoco partidário", ele diz que o seu espaço político é a liberdade, a justiça social, o humanismo, a ética, a transparência na vida pública e a adequada justa e indispensável função redistributiva do Estado. É uma boa cartilha.