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Acabo de ler com agrado o comunicado que o Conselho Regional do Norte fez divulgar em que a "uma só voz" reclama para a Região uma dotação de fundos comunitários compatível com a sua representatividade económica, social e científica.
Igualmente me parece importante que se defenda um bom aproveitamento das estratégias integradas para a leitura do território e para a gestão do envelope de fundos associados designadamente pela construção e operacionalização de iniciativas integradas territoriais.
É agora imperativo levar até às últimas consequências a avaliação das capacidades instaladas bem como dos principais problemas a resolver.
O setor da qualificação dos recursos humanos é um caso paradigmático. Tenho para mim que urge simplificar as linhas de apoio e sobretudo a organização do setor onde centros de formação, centros tecnológicos, associações de setor, instituições de interface ligadas a universidades, empresa privadas, entre outros, se mobilizam num esforço físico, técnico e financeiro totalmente desproporcionado face aos resultados atingidos.
Se hoje perguntarmos aos empresários de qualquer setor de atividade qual o problema que gostaria de ver melhor resolvido ao nível das políticas públicas a resposta é invariante: formar quadros técnicos especializados. As autarquias conhecem os desempregados, as instituições do setor regurgitam cursos e os empresários não conseguem mão de obra qualificada. Desde sempre. Pelo menos desde que há fundos. Simplificar o sistema, promover incansavelmente o interface entre as empresas, o território e as entidades promotoras/formadoras é obrigatório. Sob pena de, mais uma vez, submergirmos a oportunidade num mar de soundbites sobre a importância do sistema dual que de certo, certo, só trará uma excecional oportunidade de financiamento de despesas fixas do Ministério da Educação.
Por outro lado, a Região tem de enfrentar o desafio de conhecer minuciosamente os seus setores de especialização propondo, em conjunto com os respetivos representantes, medidas e envelopes financeiros de apoio que reflitam a real dimensão do seu contributo para o produto e o emprego ou as exportações.
E aí terá um papel fundamental não só a progressiva qualificação da estrutura associativa empresarial mas também da Comunicação Social que veicula as respetivas realidades e projetos.
Ou seja, setores naturalmente mais visíveis porque com outputs usados por todos nós, como o dos têxteis ou do calçado não podem deixar de estar acompanhados pela sistemática veiculação de informação associada a setores como por exemplo o dos moldes ou o da metalurgia e metalomecânica.
A complexidade talvez seja maior mas há que fazer um esforço sério de compreensão para que o reporte público, designadamente nos órgãos de Comunicação Social, ao nível da produção industrial nacional não se esteja quase permanentemente associada a setores com mais "sex appeal".
Para que tenham uma ideia, o setor da metalomecânica é responsável por um volume de negócios de 26 mil milhões de euros, exporta 13 mil milhões de euros (o setor do calçado exporta 1,6 mil milhões de euros), tem vindo a ser criador líquido de emprego e é o que mais investe em I&D e o segundo que mais investe em propriedade industrial. Tem forçosamente que ter presença mais detalhada nos textos programáticos da CCDR-N, por exemplo, ou nos conteúdos informativos generalistas ou especializados. Quem fala na metalomecânica fala da indústria de moldes que exporta 94% da sua produção e emprega 8000 pessoas.
Ambos os setores referidos têm forte impacto económico, social e científico em Portugal estando as suas empresas concentradas na Região Norte e faixa norte litoral da Região Centro.
No limite, mesmo que a Região não possa gerir diretamente os incentivos direcionados a estes (e outros setores), daremos um contributo qualificado para o desenvolvimento de uma atividade industrial que felizmente é mais complexa e infinitamente mais sofisticada do que o retrato mais comum que tantas vezes por facilidade ou falta de preparação veiculamos.