Esqueçamos por um momento a arquitetura geopolítica e as leis internacionais. E constatemos o óbvio: é desconcertante que a Europa, os Estados Unidos da América, o mundo ocidental, democrático e desenvolvido, nada tenha podido fazer para evitar a desumana invasão russa da Ucrânia.
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Demorará muito tempo até se reunirem todos os estilhaços da aventura desmedida de Vladimir Putin, mas esta lição pelo menos guardamos: a União Europeia e a NATO limitaram-se (com aspas carregadas) a brandir solidariedade, impor sanções económicas de eficácia duvidosa e a agitar bandeiras diplomáticas enquanto as bombas russas rasgavam os céus e destruíam os alicerces de um país democrático no coração da Europa. Dir-me-ão: há outras formas de fazer a guerra que não impliquem o manuseio de armas. Sim, e a mais evidente chama-se diplomacia. Que neste caso falhou redondamente. Putin sempre teve vantagem. Mesmo antes de a guerra começar. Porque sabia que podia entrar quase impunemente na Ucrânia, enfrentando um dispositivo militar incomparavelmente mais fraco e que lutava sozinho em casa; porque sabia que os aliados apenas podiam ranger os dentes enquanto os tanques avançavam impantes sobre as ruas de Kiev.
Qualquer que seja o futuro da Ucrânia, e do necessário realinhamento de forças aliadas naquela região do globo, há um denominador comum que, pelo menos até 2024, continuará a assomar à janela como um fantasma: Vladimir Putin. Enquanto for ele a premir o gatilho, o risco de mais democracias ruírem permanecerá latente. Putin oprimiu a Ucrânia com a força das armas, mas convém não esquecer que Putin também oprime há duas décadas a Rússia com a força de um Estado asfixiante. Ontem, Moscovo não hesitou em ameaçar atacar a Suécia e a Finlândia caso estes dois países decidam aderir à NATO. O mundo ocidental tem, por isso, de se focar não apenas na assistência ao heroico povo ucraniano, mas numa estratégia concertada que permita afastar este autocrata despudorado. Putin é o problema. Putin é a solução.
*Diretor-adjunto