Não vejo que seja possível vir a saber, com toda a clareza, o que aconteceu nesta pavorosa tragédia. Também não tenho a certeza que consigamos definir e executar uma estratégia que finalmente minore o flagelo anual a que estamos sujeitos.
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Mas tenho a certeza que é possível tratar dos que sofreram de forma condigna, eficaz e célere.
Não sei se reparou na resignação dolorosa de tantas pessoas, sobretudo de idade, face às perdas de muito ou quase tudo o que tinham. Casas destruídas ou muito danificadas, carros e alfaias calcinados, hortas e árvores em cinzas, currais em escombros, animais mortos, documentos perdidos, armazéns ou pequenas instalações fabris ou agrícolas...
Ninguém parece acreditar num Estado que não foi capaz de os proteger e que, portanto, também não será capaz de os indemnizar.
Seria regenerador perceber que, afinal, seremos capazes de ir ter com todas estas pessoas, chamar-lhes pelo nome e muito rapidamente repor o máximo que for possível, atenuando sobretudo o seu sentimento de solidão e abandono.
Se fosse eu, fá-lo-ia da seguinte maneira:
1. Listava e tornava público todos os donativos em dinheiro e em espécie que foram recolhidos (e não estou a falar das entregas instantaneamente solidárias aos bombeiros e primeiros necessitados durante o fogo); 2. Depositava numa conta na CGD tudo o que foi recolhido; 3. Listava o nome e o rol de bens perdidos ou danificados de todos os afetados; não pode ser assim tão difícil; são infinitos na sua dignidade humana mas não ultrapassam as poucas centenas matemáticas; 4. Classificava por categorias o tipo de trabalho / problema a fazer/resolver: construção civil e especialidades, aquisição de veículos, aquisição de animais e rações, renaturalização de hortas e pomares, reorganização documental (pessoal ou empresarial), manutenção de vias públicas prioritárias...; 5. Procurava encontrar um pequeno grupo de empresas que pudessem responder com qualidade e segurança, garantindo das mesmas contrapartidas mecenáticas; 6. Garantia as necessárias autorizações legais que permitissem, a título de urgente interesse público, tornar expeditas as necessárias contratações; 7. Pedia e publicava todas as estimativas financeiras e temporais e mantinha uma monitorização férrea sobre a respetiva execução; garantiria os fundos em falta diretamente do Tesouro Português (nada de fundos de emergência, fundos comunitários ou outra moeda virtual); 8. Impedia, por todos os meios, que tudo se desenrolasse através das ditas equipas intergovernamentais que nada podem fazer contra a massa bloqueadora dos protocolos, formulários e autorizações processuais; ao invés nomearia um pequeno grupo por concelho, de entre os de cada aldeia, com um contacto atento e disponível, de preferência no seu gabinete, sr. primeiro-ministro; 9. Não tinha qualquer receio de um regime de apoio direto e amplamente excecional; ninguém reclamaria porque ninguém quer acreditar que se possa repetir a sua necessidade.
Só assim voltaríamos a respirar fundo.
E, sr. primeiro-ministro, estamos a precisar!
* ANALISTA FINANCEIRA