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A frase primeiro fez--me sorrir. Depois pensar... Li-a n' "A Baixa do Porto", blogue que há muitos anos sigo e onde os temas relacionados com o Porto e com a sua Baixa são discutidos de forma inteligente, viva e representativa das muitas comunidades da cidade.
E um dos lados põe o acento tónico no cerne da questão. Gere o Porto melhor o que é do Porto. Gere o Norte melhor o que é do Norte. Gerir o nosso Centro Histórico é obviamente nossa responsabilidade e nossa competência. Não quer isto dizer naturalmente que o Estado Central se desvincule da solução. Quer apenas dizer que não pode assumir-se como recurso de última instância que é como quem diz como "gargalo". "Gargalo" financeiro, administrativo, jurídico.
Isto é sabido e ressabido e devia ter feito pensar quem aderiu ao figurino. Chorar sobre o leite derramado é compreensível mas eu nunca gostei muito do "Menino da Lágrima" da Rua do Bom Jardim. Nem na sua recente versão vintage.
O Estado Central, o Governo, erra. Primeiro quando arrasta uma tomada de decisão que sabe colocar em causa o funcionamento de uma instituição. Erra segunda vez quando perante a reação responde, através da quinta competência de uma superministra. Erra uma terceira e fatal vez quando assume pura e simplesmente abandonar o barco, enfadado com a falha de um saldo contabilístico negativo provavelmente positivo do ponto de vista económico.
O Porto, em minha opinião, ganharia mais se a tudo isto respondesse:
Primeiro - Com a apresentação de uma alternativa clara e eficaz.
É provável que, como alguns advogam, o modelo das SRU seja hoje menos eficaz e que seja tempo de evoluir para um sistema menos rígido e sobretudo onde o aumento de participação de privados (particulares e institucionais, nacionais e estrangeiros) possa amenizar as necessidades de financiamento sem que se percam as naturais prerrogativas jurídicas e administrativas absolutamente essenciais a empreitadas urbanísticas deste calibre. É provável que a aplicação dos fundos estruturais possa acolher a segunda geração do que foi o Pólis XXI para o período 2007-2013 e que responde estrategicamente aos principais desafios dos territórios urbanos, regeneração e revitalização urbana incluídos.
A não ser que por ter sido desenvolvido e estruturado pelo Sr. Professor João Ferrão, secretário de Estado do último Governo, já não sirva.
Segundo - Liderada pela CMP como é natural mas amplificada por uma rede de cidadãos.
Por melhor que sejam as intenções, de quem organiza e de quem se associa, precisamos, todos, de conhecer melhor a nossa cidade e quem nela habita, pensa e se envolve. O modelo "da elite" para o "povo" já não funciona. Até porque a "elite" do Porto, aquela que conta e que vai viver e gerir a cidade dentro de 10, 20 anos, hoje está invisível. Não tem nenhuma função, nenhum destaque institucional. Não tem, até, emprego. Mas existe, é formada, culta, cosmopolita e viva. Muitas vezes na Baixa, a do Porto cidade e a do Porto net. É que por mais respeito que nos mereçam, a "revolução no Porto" não pode ter como primeiros signatários só homens com mais de 60 anos (vide capa JN, dia 25 de maio).
Terceiro - Sem esquecer que não podemos apontar o argueiro sem ver a tranca.
É que por maior importância que tenha a reivindicação sobre os destinos da regeneração e revitalização urbana da nossa cidade de nada nos vale se não estivermos permanentemente atentos a todas as outras áreas da governação do território. Caso paradigmático, o do turismo, tantas vezes razão primordial para os movimentos de recuperação dos nossos centros históricos e/ou áreas adjacentes. Ter competência direta sobre as prioridades, as regras, os apoios ao investimento, ainda que partilhada com um território mais alargado, seria fundamental para um modelo de desenvolvimento mais potente e mais eficaz.
Talvez fosse mesmo possível impedir que se publicassem as linhas abaixo que no domingo passado pude ler na revista semanal do "El Mundo" e que falavam da visita ideal ao Porto que culminava com um cruzeiro rio acima:
" La ruta descubre las ciudades blancas del Alentejo português, como Pinhão, Barca d'Alva, Figueira, Régua... y volver a Oporto tras visitar (...) los castillos que coronam sus ciudades fortalezas". Olé!