Custa a crer mas é verdade: Paulo Macedo já anda a preparar o dia seguinte às legislativas e resolveu, abusivamente, tentar ficar com o meu lugar de cronista, aqui no JN. Senão, por que razão desatou a contar piadas quando se cruza com jornalistas à margem de eventos oficiais, ao estilo da melhor stand-up comedy? A última vez foi há dias, de fugida, no final de um debate parlamentar agendado para celebrar os 35 anos do SNS. Sátiro Macedo - "um ponto", como diria O"Neill - sem que ninguém estivesse à espera, contou, ali mesmo, uma piada extraordinária.
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Uma piada que, muito provavelmente, deixou os jornalistas mais surpreendidos do que São Paulo na estrada de Damasco ou do que Schliemann desembrulhando Tróia. Algo dessa magnitude. Uma piada tão boa, tão boa que pode muito bem vir a ser classificada como "a" piada do ano. Oiçam só: "O Governo está a equacionar a descida das taxas moderadoras para os níveis de 2013".
Não é deliciosa? Desculpem mas não consigo parar de rir.
Peço aos leitores mais desiludidos que não abandonem já a crónica e sigam o meu raciocínio. O que se passa com esta piada - como com todas as grandes piadas - é que não é uma piada que se ofereça imediatamente ao leitor. É uma piada que exige. Para o leitor lá chegar, tem de possuir um conjunto de conhecimentos prévios, como sejam, o que é isso de "taxa moderadora", qual a magnitude da descida e o que significa, realmente, "estar a equacionar".
Mas vamos por partes. Em primeiro lugar, debrucemo-nos sobre a curiosa expressão "taxa moderadora". Diz quem sabe que "taxa moderadora" é uma taxa cobrada com o objectivo de moderar o acesso aos serviços de saúde, cujos encargos são suportados pelo orçamento do SNS. Não é cómico? Como o leitor já percebeu, trata-se de um espirituoso eufemismo para "taxa afugentadora". Não é divertido o modo como designam de "taxa" o que na realidade mais não é do que um imposto camuflado? Ou, o modo como depois de os contribuintes terem pago um rol de impostos, haverá sempre mais um que terão de suportar, como dupla tributação, financiando duas vezes serviços que deveriam estar contemplados no dito orçamento, caso os governantes não tivessem esbanjado milhões à tripa-forra e gerissem melhor os impostos que lhes damos a gerir? Não é isso a social-democracia? E não tem graça também, a forma como presumem levianamente que o grosso dos doentes que recorrem às urgências não necessitariam de recorrer, e se aproveitam de abusos residuais para cinicamente nos pôr todos a pagar mais?
Em segundo lugar, o suspense implícito na proposição "está a equacionar". Ainda não tem a certeza, está a ponderar. A ansiedade que isso cria, não? Podem vir a descer, podem não vir a descer, ainda não se sabe. Quem conhece a stand-up comedy sabe da importância que um bom mistério tem no desenrolar da narrativa humorística. Imagino que neste momento, os leitores não caibam em si de emoção até conhecer a decisão do ministro.
Finalmente, o grand finale, a grande piada: a descida, a concretizar-se, representará uma redução de 0,05 euros - eu explico melhor: 5 cêntimos - nas taxas moderadoras. Com este esforço colossal pretende Sátiro Macedo aliviar os encargos do cidadão. Em vez de custar 20,65 euros, a taxa passará a custar 20,60. Tenha cuidado, senhor ministro, não vá o povo desatar a ir em massa às urgências, apenas porque esse programa ficou 5 cêntimos mais barato. Que decisão tão ousada, senhor ministro!
Ora, é tanto o entusiasmo com a possível descida que este vosso amigo resolveu levar a cabo um pequeno levantamento de despesas que podem vir a ser cobertas - notem bem, "podem", Sátiro Macedo ainda não decidiu, por favor não entrem já em entusiasmos desenfreados - pela suprema poupança de 5 cêntimos numa futura ida às urgências. Espero que vos seja útil. Fiz a lista da forma mais transparente possível:
1.ª .............
2.ª .............
3.ª .............
4.ª .............
5.ª .............