Startups e PME: a ligação que Portugal adia
Portugal orgulha-se, e com razão, do dinamismo do seu ecossistema de startups, com talento, criatividade, hubs tecnológicos e capacidade para atrair investimento internacional. No entanto, continuamos a falhar num ponto decisivo: a ligação entre estas startups e a economia tradicional. Sem essa ponte, ficamos com dois países dentro do mesmo país: um que inova e outro que tenta acompanhar. O problema é que nenhum deles cresce quanto poderia.
O tecido empresarial português é formado, em larga medida, por PME maduras, muitas delas familiares, que conhecem profundamente os seus mercados, mas enfrentam dificuldades em inovar ao ritmo que o Mundo exige. Por outro lado, as startups dominam tecnologia, agilidade e novas metodologias, mas carecem de escala, clientes-âncora e capacidade de penetração em setores estabelecidos. A solução é evidente: precisam umas das outras.
Os países mais competitivos já perceberam isto. Na Alemanha, grandes indústrias trabalham com startups para acelerar digitalização e eficiência. Em França, programas nacionais ligam PME a startups para resolver desafios reais da economia. Em Israel, as grandes empresas são laboratórios vivos onde novas tecnologias são testadas e escaladas. No final, o resultado é simples: inovação com impacto, não apenas inovação com intenção.
Portugal precisa urgentemente de um modelo semelhante, pois não basta celebrar unicórnios ou anunciar hubs tecnológicos; é preciso fazer com que a inovação chegue à agricultura, ao têxtil, ao comércio, à indústria transformadora e aos serviços tradicionais. Só assim a economia como um todo ganha produtividade, valor acrescentado e resiliência.
A ponte entre startups e empresas tradicionais não se constrói apenas com discursos. Constrói-se com incentivos fiscais para projetos conjuntos, com programas públicos que estimulem a adoção de tecnologia, com concursos de inovação aberta, com políticas que premiem quem moderniza processos, e com uma administração pública que trate a digitalização como prioridade estratégica. Também se constrói com confiança: muitas PME não precisam de "mais tecnologia", precisam de soluções claras para problemas reais e as startups portuguesas podem oferecê-las.
Num país onde a produtividade continua baixa e os salários teimam em não acompanhar o custo de vida, ligar estes dois mundos não é apenas desejável, é essencial. Startups sem mercado são fugazes e empresas tradicionais sem inovação tornam-se frágeis. Juntas, podem ser a força que falta ao crescimento económico nacional.
Se queremos uma economia mais competitiva, mais moderna e mais justa, temos de ligar estes pontos. Portugal não precisa de dois ecossistemas paralelos, precisa, sim, de um só, forte, colaborativo e orientado para o futuro.

