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Tenho sido muito questionado, de forma crítica, quanto à devolução da gestão da STCP à cidade do Porto. Esta decisão do Governo corresponde a um desejo dos autarcas da região, por um lado, e vem cumprir uma promessa eleitoral dos socialistas, por outro. O que, quando se trata de medidas sensatas e justas, deve saudar-se.
O que justifica a reprovação de algumas pessoas que ideologicamente se situam na área do centro-direita é o facto de se manter estas empresas, e nomeadamente a STCP, na esfera pública, com custos de exploração suportados pelos contribuintes. Ora, eu - que me situo nesse mesmo campo ideológico -, entendo que o Estado, para além das clássicas funções de soberania (a Defesa, a Segurança, a Justiça), deve ocupar-se de funções que promovam a qualidade de vida e a igualdade de oportunidades para todos os cidadãos. E aqui, para além da Educação e da Saúde, os transportes públicos são uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de uma sociedade.
A questão financeira é importante, claro, mas não a vejo como determinante. Se há área em que o Estado deve investir é no desenvolvimento eficaz de infraestruturas e equipamentos de transportes públicos. Salvaguardada a gestão profissional e rigorosa, cada euro gasto em transportes é uma aposta na competitividade económica local, na redução de emissões poluentes e na melhoria da qualidade de vida, na promoção turística e na valorização do equilíbrio territorial. O caso do metro do Porto é um bom exemplo, aliás, internacionalmente reconhecido como elemento indiscutível de qualificação.
Daí que volte a sublinhar a importância estratégica da municipalização da STCP. Até pelas diferenças políticas que nos separam, estou ainda mais confortável para elogiar as medidas que Matos Fernandes e António Costa têm vindo a tomar neste setor.
Acresce que o empenho dos autarcas e a sua fundamentação técnica comprovam a prioridade dada aos transportes. Em particular, Rui Moreira teve o mérito de recuperar para a cidade a liderança da gestão da STCP, após décadas de gestão centralizada. Até porque sabemos que a gestão de proximidade, ao nível local e regional, não apenas corresponde às boas práticas internacionais como é a melhor garantia da qualidade do serviço prestado. O presidente da Câmara do Porto, que teve em Hermínio Loureiro a corporização do consenso metropolitano, conta agora com um ativo decisivo para a gestão da cidade. Apesar das melhorias ultimamente registadas, durante anos os autocarros funcionaram mal. Agora é o momento de nos voltarmos a orgulhar da "nossa" STCP. Com "P" de Porto.
*EMPRESÁRIO E PRES. ASS. COMERCIAL DO PORTO