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Tão antiga como a humanidade, a arte de contar uma história foi-se cimentando como a forma mais eficaz de chegar ao cérebro. Estudos têm demonstrado que o overload de informação torna quase impossível a retenção de mensagens ou propostas novas.
Apenas quando se conta uma história, por razões de organização específica da nossa memória e dos nossos circuitos neuronais se consegue vencer o ricochete que sofre a maioria da informação que nos atinge. E a vitória é duradoura. Está provado que uma história, uma boa história, não fideliza apenas, envolve. Não nos faz comprar uma ideia, faz-nos querer fazer parte daquele mundo!
Esta noção tem vindo a impregnar múltiplos campos de ação, dos mercados de consumo, aos recursos humanos, da divulgação científica, à política.
Nesta última, o desafio é muito exigente. Passividade, tédio e, pior, descrédito é a resposta massiva dos cidadãos atestada todos os dias e expressamente contabilizada nas taxas de abstenção dos dias eleitorais.
Por isso, valia a pena que as forças políticas envolvidas nos próximos desafios eleitorais em Portugal escolham uma boa história para contar. E não se deixem enganar pelo sentido pejorativo que pode estar implícito na ideia de "contar uma história". Afinal, que maior manipulação pode haver do que a que todos os dias descobrimos nos relatórios anuais ou nos discursos oficiais?
Dito isto, sugiro que especialmente a coligação PSD/PP e o PS pensem numa boa história para nos contar. Uma história para o futuro, que não pode ser só cor-de-rosa. Que mostra que o equilíbrio foi rompido, que os obstáculos existem mas que saberemos ultrapassá-los. Uma história que não pode varrer as dificuldades para debaixo do tapete mas que também não pode cavalgar um equilíbrio que não foi atingido. Sugiro o retorno a "O herói das mil faces", de Campbell , uma fonte obrigatória para perceber ou relembrar o que afinal sempre esteve em causa na mitologia humana.
Em termos muito práticos, a história "o país que ultrapassou a crise e tem de ser ajuizado" que o PSD/PP nos querem contar não serve. Mas a do PS, que formalmente ainda não apareceu, tem de ser muito mais do que " o país que vai desapertar um furo no cinto"!