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O prazo de duração dos cortes dos subsídios de férias e de Natal aos funcionários públicos e pensionistas está a entreter o país político. Deprimidos, os portugueses assistem a um triste espetáculo do mais puro e duro oportunismo político, seja qual for a perspetiva do enquadramento partidário.
Os rococós semânticos reinam em matéria demasiado séria para alimentar chicanas políticas.
O anúncio (chorado) dos cortes de subsídios de férias e de Natal começou por ser feito em nome do saneamento da despesa do Estado e de duração programada (meados de 2014) segundo os parâmetros de ajuda externa à tentativa de Portugal escapar à bancarrota. Ou seja: catalogada ficou a decisão de "provisória", não fosse dar-se o caso de os governantes espetarem uma faca na Constituição da República. E provisória ficou por entre alguns recados oriundos de alguns dos credores (a Comissão Europeia e os euroburocratas assanhados) e a necessidade de se proceder à gestão de expectativas.
A retoma dos subsídios de férias e de Natal de quem depende das receitas do Estado é, pois, assunto gerido com pinças, não vá dar um chilique a um velhinho ou a um amanuense de repartição pública no dia em que lhe retirarem o sonho de poder usar os chamados 13.oº e 14.oº meses para pagar dívidas contraídas para esbater as agruras da vida todos os meses. A base do debate acaba, enfim, por variar entre a genialidade serôdio-contraditória da dialética do ministro das Finanças, a falta de estratégia unívoca dentro do Governo, a promessa assinada pelo primeiro-ministro de retoma "gradual" a partir de 2015 (ai sim? 0,0001% ao ano basta para ficar cumprida a ideia) e, claro, o charivari de uma Oposição a arfar entre o oportunismo e a falta de decoro.
No mínimo, é degradante o modo como se trata o estado de alma e os bolsos (vazios) do povo.
Pode parecer o contrário, mas só devia haver uma fórmula de tratar o tema dos subsídios de férias e de Natal: assumir que só voltarão se e quando os cofres do Estado português tiveram condições para os pagar. E nem a conjuntura económica, nacional e internacional, nem o nível da dívida em que Portugal está mergulhado são capazes, nesta altura, de evitar que qualquer outra oratória seja carimbada de balofa.
Continuar a alimentar a metralha política é, pois, do domínio estéril. Pior: mentiroso.
O melhor é não contar com o ovo no dito cujo.
Os funcionários públicos e os reformados merecem todo o respeito, mas não se vê, para já, alternativa: vão ter de viver cada vez com menos. Eles e os restantes portugueses.