"Os adeptos não se deixam iludir eternamente e quando percebem que a responsabilidade pelos resultados negativos é fundamentalmente do treinador e da sua estratégia, apressam-se a exigir a sua substituição".
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A análise é de Manuela Ferreira Leite e não remetia para o futebol, apesar de incluída nas páginas de desporto do semanário "Expresso". "Tal jogo, tal vida", dizia o título da crónica, para o caso de alguém ter dúvidas sobre a metáfora.
Presume-se que a líder do PSD se estava a referir ao actual primeiro-ministro, José Sócrates. Mas como a própria pede aos leitores que adivinhem em quem estava a pensar, deixa campo aberto para todas as especulações. Aliás, tendo em conta autoflagelação a que o seu próprio partido tem estado submetido nos últimos meses, é absolutamente legítimo avançar com outras personagens para esta história.
Uma hipótese plausível é a de que seja uma referência ao antecessor e rival Luís Filipe Menezes. Enquanto foi "treinador" do PSD, o autarca de Gaia sofreu ataques constantes, sobretudo entre os adeptos da Tribuna VIP. E acabou por desistir. Outra hipótese, mais perversa, é a de que a personagem seja a própria Manuela Ferreira Leite. O que não tem faltado são "adeptos" que, se ainda não exigem abertamente a substituição do "treinador", já vão ensaiando cenários para o caso da hipótese se colocar.
O próprio Marcelo Rebelo de Sousa - que no que diz respeito a posições ambíguas bate qualquer concorrente - já conseguiu avançar, na mesma tirada e sem perder o fôlego, quer a necessidade de manter a "treinadora" quer a possibilidade de a demitir. Bastará que Cristo desça à Terra. Sendo que Marcelo não precisa de testemunhas de que isso aconteça, bastará a sua fé clubística. Aliás, logo um grupo de adeptos do núcleo do "clube" em Braga tratou de convocar uma "assembleia geral" dois em um: discutir a realização de um congresso extraordinário e um eventual convite ao professor para que volte a orientar a equipa.
De duas uma, com este artigo Manuela Ferreira Leite ou demonstra um estranho sentido de humor no ataque ao treinador da equipa adversária ou nos está a dizer que é ela que está farta dos lenços brancos que os adeptos da sua equipa lhe mostram de cada vez que vai a jogo. É o problema de usar a ironia para construir um discurso político. Há sempre a possibilidade de se transformar num equívoco. Parecido com aquele da necessidade de suspender a democracia durante seis meses. Não era o que se queria dizer, mas foi o que se disse.
Diz-se que o PSD anda agitado porque sente que pode chegar à vitória. Eu duvido. Se o futebol nos ensina alguma coisa é que para ganhar um jogo, e eventualmente um campeonato, é na baliza do adversário e não na nossa que devemos meter a bola.