Superioridade da Europa
São já poucos os que resistem à tentação de deplorar a alegada impotência da União Europeia e de fustigar a suposta tibieza das atuais lideranças. Descontado o fraco entendimento do fenómeno democrático e até da história do continente, este queixume é um efeito secundário da provecta ideia da decadência europeia, que ritma a história da Europa pelo menos desde a queda de Roma. No século XIV, Petrarca queixava-se da decadência da Europa porque esta estava sempre em guerra. Mas, abolida a guerra por quase um século, os prosélitos da decadência não descansaram... Alimentar este mito é dar força à decadência - essa, sim, inegável - de Trump e ao imperialismo de Putin.
Há pouco mais de uma década, curiosamente, a UE era fustigada pelos motivos opostos - não raro pelos mesmos que agora acusam a sua fraqueza. Aquando da crise das dívidas soberanas, denunciava-se uma UE "colonial", que esmagava os povos com o diretório do ajustamento.
Talvez a verdade seja outra. Com uma arquitetura institucional e jurídica cuja última revisão data de 2007, a UE superou a deserção do Reino Unido, enfrentou com sucesso uma pandemia que parou o Mundo, emitiu dívida conjunta para recuperar as economias debilitadas, avançou com o Pacto Ecológico Europeu, rompeu com a dependência dos combustíveis fósseis russos e, com mais ou menos dificuldades, tem sido a tábua de salvação da Ucrânia. Não há outra região do Mundo com mais liberdade e menos desigualdade. No seu conjunto, os estados-membros são a principal fonte de ajuda ao desenvolvimento. Aqui desaguam milhões de pessoas em busca de uma vida melhor. Há dez países à espera de entrar no clube.
Os que querem uma Europa forte, que defendam, sem tibiezas, uma Europa federal; defendam um exército comum; defendam uma soberania europeia em vez das inoperantes soberanias nacionais - e um patriotismo europeu em vez de patriotismos de pacotilha; defendam a revisão dos tratados para acabar com a insustentável decisão por unanimidade e para eleger o presidente da Comissão Europeia; defendam o Acordo com o Mercosul e com outras zonas do Mundo; defendam a mineração de matérias-primas críticas nas nossas terras.
É preciso ter a coragem de renegar o álcool decadentista e afirmar a superioridade da Europa.

