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Elon Musk é um supervilão de desenho animado, mas na vida real. Bem sei que vivemos na era em que parecer um supervilão está na moda. Os Estados Unidos da América acabaram de eleger um, dentro da linha supervilão milionário. A Argentina já havia eleito outro uns meses antes, dentro da linha supervilão excêntrico, nos modos, na política e no cabelo. Putin é a versão supervilão do KGB, o ex-espião que conhece todos os venenos e que parece ter descoberto o elixir da imortalidade. E até na indústria do entretenimento há quem queira entrar na trend, como Kanye West, que anda armado em supervilão desbocado, lançando balas pela boca em forma de discurso de ódio, ou figuras como Andrew Tate, que se projetam como supervilões do politicamente incorreto, para louvar o machismo e celebrar a boçalidade.
Enfim, estamos rodeados de uma quadrilha de malfeitores que parecem saídos da banda desenhada, mas em pior, porque na BD os vilões costumam ter sentido de humor e esta fauna não é fã de ironia e tem muito pouco poder de encaixe. Isto porque o que os machões mais temem é cair no ridículo e, portanto, quando alguém se ri, eles ficam agressivos. De qualquer forma, para vantagem deles, isto anda tão assustador que é fácil ter vontade de chorar. Que o diga Zelensky, que é humorista.
Voltando a Musk, como qualquer supervilão da tecnologia típico dos desenhos animados, a sua ambição é controlar o Mundo. Já tem mais dinheiro que o Tio Patinhas, mas não lhe chega. Podia viver à sombra de uma bananeira numa ilha privada, mas não quer. Decidiu que vai instaurar o totalitarismo da Big Tech e controlar estados e indivíduos com as suas ferramentas de inteligência artificial e, para isso, tornou-se o papagaio de pirata de Trump. Um supervilão nerd bilionário que quer controlar o supervilão presidente milionário, que já está a ser manipulado como uma marioneta pelo supervilão russo do KGB, enquanto muitos aspirantes a supervilões salivam de admiração um pouco por todo o Mundo.
Ao longo desta escalada de Musk para a vilania, tem havido danos colaterais para os seus clientes. E se, do lado das pessoas decentes, há muitos detentores de conta no antigo Twitter que cancelaram o seu registo, há também muitos proprietários de carros Tesla envergonhados. Sheryl Crow vendeu o seu e doou todo o dinheiro à NPR, em solidariedade pelas ameaças de Trump ao futuro da rádio pública americana. Nos Estados Unidos muitos colam autocolantes nos carros, dizendo que compraram o Tesla antes de Musk ter endoidecido. E eu confesso que não consigo evitar o sobrolho franzido do julgamento quando me cruzo com uma dessas supernaves na rua, imaginando que quem ainda vê num Tesla um sinal de status deve ser fã da quadrilha dos supervilões.