Usa-se e abusa-se do conceito de sustentabilidade. Recorre-se para a dívida, para o emprego, para o SNS ou para a Segurança Social.
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Quem não for favor da sustentabilidade que levante o braço, mesmo que represente privatização de serviços públicos, para uns, ou a provisão pública e impostos progressivos, para outros. É substantivo que se confunde com adjetivo, qualifica mais do que define. Evita a divergência, a discussão que permite escolhas democráticas.
Os objetivos para o desenvolvimento sustentável (ODS) das Nações Unidas constituem a forma privilegiada de trazer a sustentabilidade, nas suas diferentes dimensões (ambiental, social e económica), para a discussão concreta, substantiva, incontornável da sobrevivência, do desenvolvimento, envolvendo todos (pessoas, empresas e instituições que as representam). Nas últimas semanas, é esta discussão que tem estado presente na preparação do Relatório Nacional Voluntário sobre o cumprimento dos ODS nas assembleias públicas realizadas em diferentes regiões do país.
Em Guimarães, discutiram-se os progressos realizados no ODS (9) "Indústria, inovação e infraestruturas". Evidenciou-se a aposta na economia circular da indústria do Norte de Portugal de forte orientação exportadora, agenda consolidada da CCDR-Norte, que dispõe no Programa Regional do Norte (Norte 2030) da sua principal fonte de financiamento. A estes progressos regionais acrescentam-se os que se registam também no ODS (4) "Educação de qualidade e inclusiva" ou no ODS (7) "Energias renováveis", nomeadamente no que respeita à melhoria do sucesso educativo, à redução do abandono escolar, à frequência do Ensino Superior ou ao aumento da produção de energia a partir de fontes renováveis (sendo 50% do total produzido nesta região NUTS II).
A prossecução dos ODS constitui agenda de integração de disciplinas e de atores (integração foi expressão recorrente nessas assembleias). Integração pressupõe espaço, pois é a partir de territórios bem delimitados do mundo físico (não virtual) que se articula a ação de empresas, de municípios, de instituições de Ensino Superior ou de unidades de investigação e desenvolvimento. Mas, neste caso, o todo não é a soma das partes, exigindo-se a definição de escalas, de todas e cada uma, desde a global à local, passando por aquela onde melhor se efetua a síntese da ação nestes dois extremos: a escala regional. Sem qualidade de vida das pessoas não se preserva a saúde do planeta, isto é, ninguém se encontra dispensado de contribuir para a construção do nosso destino comum.
*Presidente da CCDR-N