Derrotado nas urnas, o presidente do partido Nova Democracia, Antonis Samaras, cessando funções governativas, comentou com ironia profética o que tardou cinco meses a ameaçar concretizar-se: Os gregos falaram e respeitamos sua decisão. Deixo um país que está a sair da crise e é membro da União Europeia e da Zona Euro. Pelo bem deste país, espero que o próximo Governo mantenha estas conquistas.
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Os ventos da história sopraram mudanças impostas por erros que os partidos tradicionais não foram capazes de evitar, ao longo dos anos de partilha do poder. O eleitorado recusou repetir-lhes a confiança. O problema foi a alternativa.
Para alcançar o sucesso do Syriza, Alexis Tsipras transformou a fantasia em votos. E no comentário da vitória, resumiu em poucas palavras o lirismo a que se propôs: O sol voltou a brilhar para a Grécia. Fizemos história e deixamos para trás a austeridade depois de cinco anos de humilhação. O tempo da troika acabou. A Grécia não se curvará mais às exigências dos credores.
A esquerda europeia exultou com o milagre anunciado de quem, dependendo da ajuda alheia para sobreviver, imporia condições aos credores e teria mesmo assim o dinheiro em caixa.
E há dias, o ministro do Interior, Nikos Vutsis, assumiu que não pagará em junho uma tranche de 1600 milhões de euros ao FMI.
Significa que insistindo no confronto, Alexis Tsipras arriscará em breve tudo o mais que não pagará, começando pelos salários dos funcionários públicos e pensões, a par da incapacidade de assegurar tarefas básicas do Estado na saúde, segurança, educação e tantas outras, que infelizmente também não se financiam com belos discursos e murros na mesa.
Mais perto, em Espanha, o Partido Popular venceu as eleições, mas perdeu maiorias relevantes. Traduzindo, apesar de todas as dificuldades e da exigência dos nossos tempos, o eleitorado moderou na deriva do radicalismo. Ainda assim, devemos reconhecer resultados importantes dos partidos Podemos e Cidadãos.
Num exemplo paradigmático, Barcelona mudou de mãos. Depois da aventura do nacionalismo independentista, os catalães decidiram aumentar a parada. Espera-se que não consigam pior do que os gregos.
O regime venezuelano financiou o Podemos e alguns dos seus líderes, que fez conselheiros, com o Centro de Estudos Políticos e Sociais no centro da polémica. Para quem quer fazer a diferença em Espanha e na Europa, o chavismo que perdura nos passarinhos que Maduro escuta não augura nada de bom. Resta esperar para ver.