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A sondagem que o JN hoje publica dá ao PSD, pela primeira vez em oito anos, o primeiro lugar na preferência dos eleitores. Mas terão os sociais-democratas razões para festejar? Têm… e não têm. Têm, porque é melhor ser primeiro do que segundo; porque o novo líder se estreia na frente; porque o partido está a subir. Não têm, porque a diferença é insignificante; porque mais do que conquistar a preferência dos portugueses, beneficiaram da quebra aparatosa dos socialistas; porque dificilmente o PS se tornará mais impopular do que agora; porque a subida do PSD se faz exclusivamente à custa do parceiro natural de coligação, o CDS-PP.
E esta última razão merece, por si só, uma análise adicional. Se o PSD não consegue conquistar eleitores ao PS, mas apenas ao CDS-PP, isso significa que está encurralado no actual espaço de Centro-Direita, que vale aproximadamente 43%, segundo as últimas sondagens.
Ou seja, a linguagem e as propostas do PSD não são atractivas nem sequer para os eleitores mais moderados de Centro-Esquerda. Como estão as coisas, pode ser suficiente para vencer, mas não será suficiente para governar. Pedro Passos Coelho e os seus generais já perceberam qual a táctica para neutralizar o adversário, mas ainda não encontraram a estratégia que os poderá levar à vitória.
Que melhor exemplo do que fica dito do que aquilo a que assistimos, na semana passada, relativamente às SCUT? O PSD juntou-se, à última hora, à Oposição de Direita e de Esquerda, que se propunha derrubar a lei dos chips e, com ela, a cobrança de portagens nas três concessões de auto-estradas da Região Norte. Mas o PSD juntou-se sem que se percebesse muito bem se era um não, se era um sim, se era um 'nim'. Se estava contra a invasão da privacidade automobilística, ou se contestava a invasão contabilística ao bolso do condutor. Ou seja, já percebemos todos que, para citar Miguel Macedo, o líder parlamentar, o PSD conseguiu apanhar o Governo socialista "com as calças na mão". Mas não deu para perceber que tipo de fato compraria um governo social-democrata.
Claro que a trapalhada em que se meteu sozinho o Governo socialista distraiu as atenções e beneficia o PSD. Mas os próximos dias dirão se, em matéria de portagens, existe apenas táctica para as impedir, conquistando alguma popularidade, ou se existe uma estratégia, ainda que se arrisque a ser menos popular.
O PSD já fez saber que foi sempre contra as SCUT e que é a favor do princípio do utilizador-pagador. É curto. Falta saber se é a favor de um critério cego - tipo "esforço patriótico", como a sobretaxa de IRS - ou se admite isenções, quais e a quem. E já agora se lhe parece justo o actual sistema, em que, na mesma auto-estrada, alguns percursos custam zero e outros 22 cêntimos por quilómetro. É muito fácil a táctica de esperar pela proposta do adversário e desancá-la. Difícil é apresentar uma estratégia coerente, ainda que seja impopular. A ver vamos se o PSD tem alguma.