"If you can"t measure it, you can"t manage it", terá dito o guru da economia e da gestão Peter Drucker. Qualquer coisa como: o que não consegues medir, não consegues gerir.
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Por outro lado, Michael Porter, outro guru destas áreas, que há quase 30 anos esteve por cá a convite do Governo de então a realizar um estudo sobre a competitividade do país, definiu o valor em saúde como os resultados, percecionados pelo doente, a dividir pela despesa incorrida para os conseguir.
Não vou nem quero discutir a validade destas afirmações, com as quais é fácil estar de acordo, mas parece-me óbvio e intuitivo que não podemos continuar a fazer análises e avaliações sobre políticas e opções em saúde sem introduzir estas dimensões.
E tudo isto prende-se muito com dois enormes desafios que, no que toca à saúde, se colocam à humanidade se quiser continuar a ter esta como uma das suas maiores conquistas coletivas: prestar mais e melhores cuidados com os mesmos, ou até com menos, recursos; e concretizar o abundantemente enunciado, mas muito pouco praticado, objetivo de colocar o cidadão e o doente no centro do sistema.
Relativamente ao segundo, é incontornável empoderar o cidadão e o doente, o que, entre muitas outras mudanças, passa por lhe assegurar a livre escolha, desejavelmente moderada e auxiliada pelo seu médico, sobre onde e, se possível, por quem quer ser tratado.
Mas para que eu possa escolher tenho que poder, de forma objetiva, comparar a oferta disponível a qual, para o efeito, tem que medir e publicar os seus resultados, obtidos de acordo com standards universais auditáveis.
Resultados esses em que além da dimensão clínica têm que ter incorporada a perceção e a avaliação do doente.
Quanto ao primeiro, passa por trazer para esta área, de forma generalizada, todas as ferramentas disponíveis: ao nível da gestão de recursos, desde logo dos humanos; ao nível da I&D e em particular da inovação; e ao nível da inteligente utilização do potencial ilimitado da digitalização e dos dados; o que tem sido impedido, atrasado ou limitado pela ausência de uma prática de medição de resultados objetivos e comparáveis.
Claro que não podemos ignorar que na saúde as coisas são sempre mais difíceis, desde logo porque, contrariamente ao que se passa noutras realidades da nossa vivência coletiva, aqui, quem beneficia é um, quem prescreve é outro e, na maioria dos casos, quem paga é um outro.
Sempre me custou muito compreender a razão ou as razões para que certos conceitos como eficiência, produtividade ou valor só muito tardiamente, de forma assimétrica e sob forte resistência, tenham vindo a ser integrados no dicionário da prestação de cuidados de saúde.
A ausência de uma cultura de medição, comparação e avaliação de resultados pode ser uma dessas razões.
*Diretor-executivo do Health Cluster Portugal