Praticamente estamos a 48 horas do fecho desta campanha e continua tanta coisa por esclarecer. Esta foi a campanha do discurso da vingança, do despeito, da raiva, do bota-fora. Foi a campanha do desconsolo, da frustração, do esconder das verdades, das "piedosas" mentiras, do revigoramento do cinismo, do disfarçar as imposições do acordo. Este Portugal terá de se corrigir rapidamente destes procedimentos. Que o deprimem, o desmoralizam, quase o trucidam. E não são apenas nestes 15 dias ditos (imagine-se) oficiais. Desde que este Governo se demitiu (há quase dois meses) andamos nisto. É urgente que a nova maioria a preencher a Assembleia da República acelere estes prazos de ínterim, entre um governo que cai e outro que nasce. Ainda antes de reduzir o número de deputados. Ainda antes de "comprimir" ou reestruturar freguesias e concelhos, o que vai trazer a odiosa guerra das fronteiras, base genética de todas as guerras. Estivemos este tempo todo a penar. E não digam que é preciso este período para esclarecer. Para levar o povo a pensar. A decidir o voto. Todas as campanhas são um pouco assim. Mas esta foi um massacre. Sob a pressão angustiante de um futuro comprometido, adiámos um mês, 15 dias, para começar a fazer o que o desígnio da troika já nos destinou: levar a cabo as duras medidas do acordo ou, então, sermos corridos de uma Europa que não suporta devedores.
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Sabemos que Portugal vive mais uma grave crise da sua História. Que temos uma dívida soberana ameaçadora com a bancarrota. Que temos mais de 700 mil desempregados. Que temos milhares de famílias no beiral da pobreza. Apontamos como grande responsável o Governo. Sabemos que todos os partidos esconjuram José Sócrates e não querem nem a ele, nem o PS, para compartilhar o tal governo de ampla cobertura na AR, como deseja a troika. Mas continuamos sem saber, preto no branco, como foi acumulada toda a dívida (pública e privada) que, não obstante todo o desvario e desperdício deste Governo, tem outros responsáveis. Não vemos nomeadas as câmaras concelhias ou as regiões, proporcionalmente, com dívidas superiores à do Estado, os negócios escuros do BPN, os ruinosos contratos das PPP (parcerias público-privadas), a força dos lóbis que há tanto tempo travam as reformas deste Estado.
Não me parece que esta campanha tenha servido sequer para aumentar o sentido de uma cidadania responsável que ajude o novo governo a procurar outros tempos e outras vidas para Portugal.