Tantos anos depois...
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Já lá vão mais de 12 anos! Os atentados terroristas contra as torres gémeas e uma ala do edifício do Pentágono não foram vividos pelas nossas crianças e grande parte dos mais jovens não guarda qualquer memória do espetáculo de horror mais amplamente difundido em toda a história da humanidade. Entretanto, muitos dos que o testemunharam em direto desapareceram também. E algumas empresas deram o luto por terminado e aproveitaram a efeméride para publicitar os seus produtos e promover as vendas. Apesar das promessas, o presidente dos Estados Unidos não conseguiu até hoje fechar a prisão de Guantánamo. Ali continua detido, sem julgamento, o principal suspeito da coordenação operacional dos atentados. Também Osama bin Laden - que confessou a autoria moral do crime - foi mandado executar pelo presidente dos Estados Unidos, sem julgamento. As leis de exceção que permitem sérias restrições dos direitos fundamentais e legitimam os poderes reforçados das autoridades policiais e do presidente, então aprovadas para enfrentar a ameaça terrorista, ainda continuam em vigor.
Contudo, um estudo estatístico publicado na quarta-feira pelo "Washington Post" (Brad Plumer: Nine facts about terrorism in the United States since 9/11) revelava que o número de atentados terroristas tem vindo continuamente a decrescer nos Estados Unidos da América, desde os anos 70 do século passado. Que o maior número de vítimas de atos de terrorismo se verifica na Ásia e em África, encontrando-se a população norte-americana entre as que desfrutam de maior segurança, à frente dos europeus. Que o risco de um cidadão norte-americano ser ferido ou aniquilado em consequência de um ato terrorista, estatisticamente, é muito inferior à probabilidade de sofrer uma agressão ilegal, infligida pelas forças policiais do seu próprio país. A realidade não confirma a importância atribuída à ameaça terrorista. Mas até no Egito, os autores do golpe militar que depuseram um presidente democraticamente eleito se justificaram com a necessidade de combater os terroristas...
A queda do muro de Berlim, em 1989 - há quase 24 anos! - e o fim da Guerra Fria criaram no Ocidente uma espécie de "estado de graça". Admitia-se que, uma vez extinta a rivalidade que se temia capaz de desencadear uma nova guerra mundial, a paz iria finalmente reinar entre os povos e uma nova ordem internacional mais respeitadora da justiça e do direito poderia emergir. Era um sentimento tão forte que nos 12 anos que se seguiram à derrocada do muro de Berlim cresceu a predisposição para aceitar um amplo alargamento do princípio internacional do "uso da força" por razões humanitárias que conheceu um primeiro ensaio, nos Balcãs, e um grande sucesso, em Timor-Leste. Contudo, apesar das limitações patentes da sua estrutura e do anacronismo flagrante da composição e das competências reservadas ao Conselho de Segurança, nada se adiantou na tão reclamada reforma das Nações Unidas, nem antes nem depois dos atentados de 11 de setembro de 2001. Bem pelo contrário, aos primeiros 12 anos de benévola ingenuidade, iriam agora somar-se mais 12, mas sob a égide do "medo e pavor": em nome da "guerra contra o terrorismo" consumou-se a invasão e ocupação militar do Iraque. Multiplicaram-se as execuções sumárias, à distância, por ordem do presidente dos Estados Unidos, sem escrutínio público nem direito a julgamento. Banalizou-se a interceção das comunicações dos cidadãos comuns com total desprezo pelo direito à proteção da privacidade.
Há 40 anos, em 1973, um golpe de estado militar, no Chile, apoiado pelos serviços secretos norte-americanos, derrubou o Governo legítimo de Salvador Allende, inaugurando uma ditadura responsável pelos crimes mais violentos e perseguições inomináveis contra o seu próprio povo. Ontem, Barack Obama adiava a anunciada intervenção militar na Síria, contra outro tirano, para admitir novas diligências diplomáticas. Uma oportunidade para que se cumpram os votos de paz do presidente Jimmy Carter.