Quero prestar a minha pública homenagem ao presidente do Turismo de Portugal, Luís Araújo, por ter tido a honestidade intelectual para verbalizar o sentimento que há anos invade os corações de todos aqueles que não acreditam (nunca acreditaram) na estratégia de sobrevivência da TAP, por um lado, e na sua pretensa missão de servir todas as regiões, por outro. Não estamos habituados a tanta franqueza num país que vive de protocolos e aparências.
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O que disse, então, o homem-forte do turismo? Que era melhor a Região Norte esquecer a TAP e virar-se para a Iberia. Porque a transportadora nacional - não o afirmou com todas as letras, mas é o que isso significa - montou o seu plano de resistência pós-nacionalização completamente assente no aeroporto de Lisboa. Na verdade, já todos tínhamos percebido (e já todos estávamos cientes de que íamos pagar a fatura por igual), mas a posição de Luís Araújo, transmitida numa reunião fechada com alguns agentes económicos da região, ao contrário do que muitos possam pensar, deve ser vista de uma forma construtiva e não destrutiva. Teria sido mais honesto e leal que não nos tentassem enganar como têm andado a fazer nos últimos anos. Que o Governo e o certamente bem-intencionado ministro Pedro Nuno Santos já tivessem posto as cartas na mesa e não insistissem na narrativa gasta de que a companhia aérea de bandeira foi ungida por um dever patriótico. Luís Araújo foi franco demais para o cargo institucional que ocupa, mas bendita a hora em que a boca lhe fugiu para a verdade.
O Porto, que por acaso até está a recuperar melhor do que Lisboa a normalidade aeroportuária, só não parece ser importante para a TAP, porque para outras companhias como a Iberia e a British, só para dar dois exemplos, constitui um importante ativo estratégico. Luís Araújo cometeu o pecado de falar a verdade. Não o crucifiquemos por isso. Por mim, quero apenas agradecer-lhe ter sido o único a usar do pragmatismo neste céu de enganos e neste mar de dívidas. A TAP não quer saber do Porto. O Porto não precisa da TAP. Podemos avançar?
Diretor-adjunto