Corpo do artigo
Desde sexta passada e até domingo, vivemos a greve dos pilotos da TAP. Uma greve em tempo real, participada por umas dezenas, com impacto sobre milhares e com gravíssimas consequências económicas, sociais e reputacionais. Para o Porto, trata-se da prova de que a TAP conta cada vez menos.
Em pleno processo de venda da companhia, esta greve é absolutamente suicida. Primeiro, por não serem justificáveis nem compreensíveis as razões que a motivam. Note-se que os pilotos não são contra a privatização, antes exigem ser parte acionista na mesma. Na prática, algo como os trabalhadores das gasolineiras entrarem em greve com o pretexto de quererem participar dos lucros das suas companhias.
A TAP raramente é lucrativa, pelo menos em dimensão que se veja, e a greve vem por si só arruinar qualquer perspetiva de lucros futuros. É uma greve egoísta, de uma pequena parte de uma grande empresa, na dimensão do quadro de pessoal e no valor dos ordenados que paga. Os trabalhadores de terra são contra, o restante pessoal de bordo não alinha, os funcionários da manutenção opõem-se. Aliás, mesmo entre os pilotos, a maioria não faz greve. Em suma, um segmento de uma classe profissional quase consegue destruir uma empresa. A isto chama-se irresponsabilidade.
A irresponsabilidade de arruinar a imagem da TAP perante os clientes e a sua credibilidade diante de eventuais investidores. A irresponsabilidade de colocar em causa o setor com maior crescimento da economia nacional, o turismo. A irresponsabilidade de transtornar a vida de milhares de emigrantes, com custos sociais evidentes. Por mais legítimo que seja o direito à greve, numa empresa privada, em qualquer setor, estes trabalhadores não teriam outro destino reservado que não fosse a porta da rua.
No Aeroporto do Porto e dadas as escassas ligações diretas que a TAP garante, a situação é ainda mais crítica. Com a necessidade de tomar ligações no ou para o famoso hub de Lisboa, a probabilidade de um passageiro do Porto ver um voo cancelado multiplica-se por dois. Ou fica em terra no Porto, ou fica em terra na capital, ou é obrigado a voltar a casa de comboio. Sendo certo, como sabemos, que no Porto há alternativas e que há muito tempo nos habituámos a não confiar na TAP. A destruição de valor, apesar de tudo, não deixa de ser chocante para a economia, lamentável para o país e vergonhosa para os clientes.