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Aquando da demissão de Pedro Nuno Santos, escrevi que saía um ministro do Governo, mas a TAP ficava. Seríamos nós, os contribuintes líquidos e acionistas involuntários da companhia aérea, a continuar a pagar a fatura das decisões políticas irresponsáveis que foram tomadas nos últimos anos, sendo uma questão de tempo até conhecermos novos capítulos desta novela burlesca - cujas consequências, numa democracia madura e exigente, não se ficariam pela saída de um só governante.
A apresentação do relatório da IGF e a demissão em direto da CEO da TAP foi, no entanto, um dos momentos mais lamentáveis de todo este processo. Desde a notória intenção de alijar responsabilidades sobre o despedimento de Alexandra Reis, à leviandade de se anunciarem rescisões por justa causa sem cuidar da respetiva fundamentação legal, vimos naquela conferência de imprensa o concentrado de voluntarismo, impreparação e navegação à vista que tem caracterizado a condução do dossier TAP por parte do Governo.
Esta sucessão imparável de casos está a destruir o que resta da companhia aérea, desvalorizando-a ao ponto de vir a ser negociada muito abaixo do preço que já custou aos contribuintes. Neste intervalo, os sindicatos continuam a não dar tréguas nas exigências, são públicas as dificuldades que a empresa tem tido no recrutamento e já se anunciam dificuldades em manter a operação para a época alta do turismo. A indefinição estratégica mantém-se, por exemplo na ambiguidade face à Região Norte, onde o grupo de trabalho para desenvolver a conetividade aérea aguarda há meses por uma reunião com o novo ministro das Infraestruturas.
Se a situação da TAP estava má, pior ficou depois deste episódio. E o contexto político está longe de ficar normalizado, estimando-se mais turbulência com o início dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito. Que haja um módico de bom senso por parte dos decisores políticos nos próximos meses, em nome do interesse público e de uma reprivatização que é, cada vez mais, urgente e necessária. Os portugueses já suportaram este desmando tempo mais que suficiente.
*Presidente da Associação Comercial do Porto