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1 O Governo prometeu recomprar, por 1,9 milhões de euros, 16% do capital da TAP para ficar com um total de 50%. O resto pode ficar só com a Atlantic Gateway ou com esta e com os trabalhadores. É que ficou assente na primeira operação, que os trabalhadores teriam acesso privilegiado a 5% do capital. Foi muito grande o charivari feito à época, com greves e reivindicações sindicais, voos cancelados e os habituais incómodos impostos a quem nada tem a ver com o assunto. Seria de pensar que agora se apegassem à conquista e se mantivessem acionistas, podendo jogar um papel muito importante a meio caminho entre o interesse nacional e a estrita obrigação de remunerar os acionistas. Acontece que o discurso público dá já de barato que a Atlantic Gateway comprará essas ações (mantendo assim um equilíbrio mano a mano com o Estado português). Os factos históricos mostram que a reivindicação acalorada se esfuma quando deixa de ser revindicação e passa a dar trabalho. Foi o que aconteceu com o caso da ANA, onde os trabalhadores depois da gritaria contra a venda à VINCI conseguiram a reserva de 5% do capital tendo comprado... 0,024%! É por estas e por outras que todos desconfiamos da base sindical do PCP.
2. Dizem-nos, entretanto, que a TAP estava na bancarrota e a frota a roçar a insegurança endémica. Vendeu-se às pressas e ter-se-á conseguido evitar o colapso da tesouraria e das normas de segurança. A companhia continua a voar e a nova frota de aeronaves já tem aquisição calendarizada. Do mesmo passo suprimem-se rotas que, por acaso, são essencialmente rotas com base no aeroporto do Porto. Não é preciso explicar por que é que os voos em causa nos fazem falta e por que é que tem de ser dada atenção relevante a esta base de operações. O que tem de se explicar é que é precisamente ao nível estratégico, o nível onde o Governo tem de facto uma palavra a dizer, que é preciso intervir para exigir um modelo operacional que assuma a TAP como um poderoso instrumento de desenvolvimento equilibrado do território. Remeter tudo para a esfera da Comissão Executiva de Fernando Pinto não é sério e esvazia liminarmente a função da metade pública do enorme Conselho de Administração.
3. Por último uma nota à projeção política regional deste tema. Faz bem o presidente da Câmara do Porto em não se calar. Mas teríamos todos a ganhar se o discurso fosse assumido pela região inteira, coesa na diversidade rica e competente que a caracteriza. É que o aeroporto "chama-se" do Porto mas fica na Maia e serve grande parte do Norte Peninsular.