Tapar o sol com a peneira é uma asneira que fazemos recorrentemente ou que deixamos que nos façam, sobretudo no que toca à observação da coisa pública.
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Passamos a semana inteira a discutir a TAP fazendo tábua rasa do que se passou em finais de 2015 e princípio de 2016.
Com a ajuda da Comunicação Social o problema da TAP ficou reduzido à nomeação dos representantes do Estado, e mais concretamente às relações próximas que dois dos nomeados têm aos principais partidos e/ou protagonistas do país.
E, no entanto, já passaram alguns meses sobre a reversão da privatização com algumas mudanças concretas a serem implementadas:
1. Ao contrário (pelo menos das minhas) expectativas, a OPV de 5% do capital foi um sucesso tendo cerca de 600 trabalhadores conseguido comprar ações da empresa; quer isto dizer que a estrutura acionista conta agora como um fiel da balança interessante, ultrapassado que está o empate (se a subscrição não tivesse tido sucesso ) entre o Estado e o acionista privado, a Atlantic Gateway;
2. Está em curso (segundo o site oficial da companhia) um poderoso plano de investimento que passa pela renovação integral da frota da Portugália, pela encomenda de 53 novos aviões, pela modernização dos interiores da frota atual, pela introdução de dispositivos sharklet em 12 aviões da família A320 e de numa nova plataforma digital de reservas e ainda a integração na frota de dois novos aviões A330-200, até junho, com o objetivo de concretizar a curto prazo os planos de expansão para os Estados Unidos da América. Do ponto de vista operacional releva a criação da ponte aérea Porto-Lisboa e ainda a introdução de um conjunto de novas rotas para Toronto, Estugarda, Gran Canaria e Alicante;
3. Do ponto de vista financeiro a Tap apresentou pela primeira vez, nos últimos anos, resultados positivos que o atual CEO garante manter;
4. Mantém o serviço previsto para as regiões autónomas e para a lusofonia africana e parte da diáspora mas mantém igualmente o desinvestimento no aeroporto do Porto, assumindo apenas um hub estratégico no aeroporto de Lisboa;
Recordando as condições da privatização e da respetiva reversão, analisando as decisões em curso e os resultados já conseguidos, seria então interessante discutir se a manutenção de uma participação expressiva numa companhia de bandeira é garante efetivo para :
1. Usar a Marca em favor do reforço positivo da Marca País.
2. Influenciar as decisões estratégicas no sentido da manutenção de uma adequada rentabilidade do capital investido;
3. Assegurar a implementação das medidas de "serviço público" associadas a falhas de mercado (e.g. Açores e Madeira) ou a ligações históricas e culturais (lusofonia africana e diáspora);
4. Impor uma presença equilibrada nos dois principais aeroportos do país, diferenciada e adequada à necessidades específicas do incoming e outgoing que cada um serve;
Esta discussão teria sentido. Aquela a que assistimos é inútil e superficial.
ANALISTA FINANCEIRA