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Em novembro de 2016, escrevi aqui sobre o futuro. Garantia eu, desejando que a previsão falhasse, que depois da eleição de Trump a neutralidade da Internet iria acabar. "A mega fusão entre a Time Warner e a AT&T é o primeiro passo para aumentar decisivamente a pressão para que termine. Essa e outras empresas vão querer recuperar a escassez em que basearam os seus impérios de comunicação, de produção e distribuição, posta em causa pela revolução binária. Há muitos na administração Trump que com eles concordam e outros que vão lucrar com isso. A coação sobre os reguladores vai subir para níveis sem precedentes", arrisquei.
Pois bem, em maio de 2017, o novo líder do poderoso regulador do setor (a famosa FFC), um ex-advogado da gigante das telecomunicações Verizon, nomeado por Trump, decidiu que era necessário reverter a legislação de 2015, que garantiu, depois de uma primeira investida contra, a manutenção da neutralidade da Net. "Que não haja dúvidas: esta é uma batalha que pretendemos travar e é uma batalha que vamos vencer", declarou. A bola está agora do lado da sociedade civil, que tem ainda escassos dias para protestar com veemência.
É também a esta luz que deve ser vista a compra da TVI pela Altice. Sei bem que a neutralidade da Net não é um tema que preocupe as pessoas. Poucos sabem o que é, embora todos gozem dos privilégios que nos possibilita. Mas garanto-vos que vão sentir falta dela, no dia em que as operadoras, para ganhar mais dinheiro, começarem a decidir limitar e cobrar pelo acesso a sites ou serviços online por eles controlados, ou a forçar Net mais lenta nos conteúdos da concorrência, para beneficiar os seus. Mas nessa altura, já vai ser tarde demais.
* Jornalista