Tecnologia, pedagogia e o futuro da educação
A escola que conhecemos hoje nasceu na era industrial, quando apenas 10% da população desempenhava funções complexas e 90% executava tarefas repetitivas. Naturalmente, a escola preparava esses 10%. Hoje, o paradigma do acesso mudou. A Europa ambiciona, para 2030, a meta de 45% de diplomados do ensino superior entre os 25 e os 34 anos. Mas continuamos presos a um modelo desenhado para um mundo que já não existe.
A transformação tecnológica acelerou de tal forma, que 39% das competências dos trabalhadores terão de ser atualizadas nos próximos cinco anos, segundo o Fórum Económico Mundial. A pergunta é inevitável: estará o nosso sistema educativo preparado para esta velocidade? Evidentemente que não. E, por isso, precisamos de coragem para repensar conceitos fundamentais como disciplina, currículo, escola, inteligência, avaliação; o papel do professor e o próprio ato de aprender.
O futuro da educação não será definido apenas por tecnologia, mas por uma mudança profunda na pedagogia. A aprendizagem baseada em projetos, em que os alunos resolvem desafios reais e colaborativos, aproxima a escola da vida e desenvolve competências essenciais como criatividade, pensamento crítico e autonomia. Paralelamente, ganham força modelos mais participativos - escolas que escutam alunos, professores e a comunidade.
Outro vetor decisivo é a abertura da escola ao Mundo. Famílias, artistas, cientistas, instituições, empresas e profissionais de múltiplas áreas tornam-se agentes ativos do processo educativo.
A criatividade, muitas vezes confinada às artes, será central. É através dela que comunicamos, inovamos e damos sentido ao que aprendemos. Não existe ciência sem imaginação, nem tecnologia sem capacidade criativa. Por isso, o futuro exigirá uma conceção mais ampla de inteligência, que valorize igualmente dimensões emocional, social e ética.
A tecnologia terá, claro, um papel decisivo: personaliza aprendizagens, expande recursos e aproxima-nos do conhecimento global. Mas não substitui a experiência humana. O desenvolvimento é holístico. Precisamos de natureza, cooperação, diálogo e experimentação, elementos que nenhum algoritmo pode replicar.
Num tempo em que aprender ao longo da vida passa a ser uma necessidade, Portugal tem a oportunidade de reinventar o seu modelo educativo. A questão já não é quando vamos mudar, mas como vamos liderar essa mudança.
A escola do futuro não está longe. Está a começar agora, nas escolhas que fazemos. E será tão transformadora quanto a nossa capacidade de a imaginar e de a construir.

