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A questão que se coloca é a seguinte: se não conseguimos lidar com o fascínio dos telemóveis, se não admitimos que estamos viciados e que o aparelho já é uma extensão do braço, como iremos lidar com o admirável mundo novo que a inteligência artificial nos vai trazer?
A reflexão não se deveria centrar sobre se os alunos do 1.° e 2.° ciclos podem, ou não, usar smartphones nos espaços escolares. Por esta altura, quase todos nós aplaudimos a medida, mesmo que tenhamos chegado tarde a ela. Segundo a UNESCO, cerca de 25% dos países do Mundo já possuem leis que proíbem o uso de telemóveis nas escolas.
Talvez o que mais nos deva inquietar seja compreender por que razão não conseguimos encontrar um equilíbrio na forma como lidamos com a tecnologia. Afinal, não foram as crianças que falharam. Fomos nós. Porventura, se munidos de mais literacia digital desde cedo, a palavra proibição não entraria nas escolas destes jovens. Também não soubemos ensinar. Nem em casa.
Agora, o Governo muda as orientações da célebre disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, que só foi assunto devido às questões de género. Mas nos oito domínios obrigatórios da cadeira não encontramos nenhuma referência direta à literacia digital.
Num momento em que os jovens (e muitos adultos) não sabem sequer distinguir o que é verdadeiro e falso, em que as burlas digitais disparam, em que as plataformas privilegiam conteúdos que aumentam a radicalização e nos prendem em scrolls infinitos, torna-se urgente recuperar o sentido crítico.
O futuro já nos passou por cima uma vez. Valia a pena termos apreendido.