Televisões privadas em guerrilha aberta
Há muito que não havia uma guerra de audiências tão aguerrida entre a TVI e a SIC. Regressada ao quarto canal, Cristina Ferreira prometeu revolucionar o meio.
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Mexeu-se na programação e mudaram-se alguns apresentadores. Convinha acautelar a confusão entre estrutura acionista e opções de grelha, a interpenetração das esferas pública e privada das celebridades televisivas e os beijos e abraços que se exibem no ecrã em tempos de pandemia.
Reunindo bastante polémica até pelos montantes da indemnização que a SIC exige, a transferência de Cristina Ferreira para a TVI, onde acumula o cargo de diretora de programação, começa a fazer-se sentir. O primeiro ataque foi ao Alta Definição, de Daniel Oliveira, criando-se no mesmo horário um especial de ficção em direto. Amanhã, as tardes da TVI contarão com Ruben Rua e Helena Coelho. Aos domingos, reabilitou-se Somos Portugal, um programa muito rodado, agora com outra estética. Há duas semanas, iniciou-se mais uma edição do Big Brother que acumula já 20 anos. A TVI promoveu-o de véspera com uma entrevista na casa da apresentadora, rasgando uma janela dispensável para o recato do lar de Teresa Guilherme. Nesta segunda-feira, organizou-se a despedida da dupla Cristina/Goucha no Você na TV, numa estratégia que almofadava audiências para dali a dois dias, não se percebendo depois a continuidade de um programa que se julgava terminado. Na quarta-feira, estreou-se a âncora da TVI: Dia de Cristina, com um cenário estranho para o "day time" e com um alinhamento idêntico àquele que a apresentadora desenvolvia na SIC. Até agora, inovou-se pouco.
Neste frenesim há que acautelar deslizes. Os acionistas da TVI são diversos, não sendo adequado bajular nenhum deles, muito menos a própria Cristina Ferreira, em programas de entretenimento. Também não será prudente discutir opções de programação em formatos que procuram distrair as pessoas, até porque a estação tem um diretor-geral. As audiências perdem o essencial das conversas e criam-se decerto entropias no meio televisivo. Também pode ser arriscado promover convergência de ecrãs, introduzindo nas redes sociais momentos que pertencem à privacidade de quem faz televisão. Há bastidores que devem manter essa natureza para não estragar zonas frontais.
O que está a fazer a SIC agora? A correr atrás da TVI. Isso nunca trouxe futuro a nenhum canal. Há, pois, que ponderar caminhos.
*Prof. Associada com Agregação da UMinho