O país político está parado, expectante e ansioso, à espera do dicurso de tomada de posse que o presidente da República proferirá amanhã na Assembleia da República. Em boa verdade, o outro país - o país real - também está parado, sobretudo nas longas filas de acesso às gasolineiras de marca branca que, por estes dias, praticam apetecíveis descontos nos combustíveis...
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O que dirá Cavaco Silva na alocução de quarta-feira?
Criticará as opções do Governo?
Recordará novamente a posição "insustentável" em que o país se encontra?
Soltará sinais de apoio à formação de um novo Executivo?
Lembrará a possibilidade de formação de um Governo entre PS e PSD como única forma de se fazer o que tem de ser feito, para não hipotecarmos ainda mais (se é que tal é possível...) o futuro da nação?
Garantirá que fará, através da famosa magistratura activa, marcação cerrada a José Sócrates, deixando-o cair à primeira oportunidade?
Recordará que o Governo tem o benefício da dúvida, pelo menos até apresentar, lá para Abril, o andamento da execução orçamental no primeiro trimestre?
É preciso esperar para ver que posicionamento escolherá Cavaco Silva. O que não parece crível é que, nesta altura, o presidente possa dar-se ao luxo de esticar demasiado a corda. Três exemplos apenas das limitações que Cavaco não deixará de ter em conta no discurso.
Um: os investidores que nos emprestam dinheiro estão há vinte sessões consecutivas a exigir mais juros. Bastará um empurrãozinho para que o limite do sustentável seja alcançado. Qualquer crítica mais deslocada de Cavaco pode bastar para nos atirar para o abismo.
Dois: Cavaco não morre de amores pela actual liderança do PSD, e menos ainda pela liderança do CDS-PP. De modo que um Governo Passos Coelho-Portas também não é saída que o presidente deseje ardentemente.
Terceiro: vem aí uma decisiva cimeira da Zona Euro e um não menos decisivo Conselho Europeu para os países de risco, como Portugal. Chegar lá com fissuras políticas muito expostas é um risco que não podemos correr. Cavaco Silva sabe disso.
De modo que, tendo a palavra, o presidente terá de a usar com cautela, para não ficar prisioneiro dela.
