Uma das memórias dos meus distantes e pouco saudosos tempos de vida militar forçada foi um diálogo no bar do Quartel-General do Porto entre um viril capitão de infantaria e um alferes, miliciano como eu.
Corpo do artigo
O capitão tinha, sobre as deserções no exército americano no Vietnam e as manifestações contra a guerra, uma opinião por assim dizer descabelada: os manifestantes antiguerra eram "cabeludos e drogados" e os desertores "umas bichas, que têm é medo de combater". Observou-lhe o infeliz alferes que Alexandre, o Grande, era "uma bicha", não rezando a História que fosse dado a ter medo de combater. O capitão percebeu o essencial da observação: "De bichas sabe você...". Gargalhada quase geral no bar, o valente capitão Schweik ganhara mais uma batalha.
Lembrei-me dessa história ao saber da reacção do ditador bielorrusso Lukashenko à afirmação do ministro alemão Guido Westerwelle, homossexual assumido, de que a Bielorrússia era a "última ditadura da Europa": "É melhor ser ditador que ser gay..."
Primeiro (e, até agora, único) presidente da Bielorrússia pós-URSS, Lukashenko tem-se evidenciado por medidas particularmente "viris": perseguição dos opositores, limitação das liberdade individuais e de expressão e imprensa, fraudes eleitorais...
Talvez não devamos menosprezar a sabedoria gramatical, a gramática algum motivo há-de ter para que "virilidade" seja, como Jacques Prévert notou, uma palavra do género feminino.