Este é normalmente um período de balanço do ano prestes a findar. Período também de definição de propósitos e objetivos para o novo ano que se aproxima. Por isso dedico este último Bloco de Notas de 2015 aos eventos que considero mais marcantes dos últimos 12 meses, e que certamente marcarão também os meses vindouros.
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A mudança de Governo, ocorrida na sequência das eleições de outubro passado, é o evento mais marcante do ano. Um Governo que se propõe prosseguir políticas diferentes e ao mesmo tempo respeitar os compromissos do país no âmbito da sua participação na UE e no euro. Tem um suporte parlamentar inédito que exigirá certamente uma grande capacidade de gestão política. O orçamento para 2016 será um ponto alto dessa gestão e um fator decisivo para a evolução económica e financeira do país e, consequentemente, para a avaliação do desempenho do Governo.
Entretanto o Governo venceu já um sério obstáculo, ampliado pela inépcia e calculismo eleitoral do Governo anterior. Refiro-me ao Banif. A situação deste banco ilustra bem a fragilidade da economia e do sistema bancário do país. Este é o segundo aspeto marcante de 2015. A recessão de 2011-2013 deixou marcas profundas na economia e nas finanças: famílias com orçamentos mais magros, empresas debilitadas e fortemente endividadas, um setor público ainda muito deficitário e com uma dívida elevada e bancos a braços com um alto nível de incumprimento de crédito, o que prejudica a sua rendibilidade e corrói a sua solvabilidade.
Não há economias fortes sem bancos fortes. O Executivo anterior não enfrentou este problema. A estabilização e reforço do setor bancário é agora um desafio incontornável. A crise evidencia também que o modelo de negócio da Banca tem que mudar. Impõe-se maior transparência, melhor avaliação do risco, melhor controlo interno, mais eficiência assente na exploração das potencialidades oferecidas pelas novas plataformas tecnológicas de comunicação.
A nível externo, há também eventos a destacar. Primeiro, a evolução da crise na Grécia revela que a UE continuará a exigir rigor nas finanças públicas e, por outro lado, ao querer chegar a acordo com o FMI quanto à nova reestruturação da dívida grega revela que continua apostada na integridade do euro. Em segundo lugar, destaco a ação decisiva do BCE ao lançar a política de "quantitative easing" para estimular a procura interna na Área do Euro e conjurar os cenários de deflação. Por fim, a desaceleração do crescimento na China e a inversão da política monetária dos EUA, que decidiu subir as suas taxas de juro, são eventos de 2015 que irão certamente marcar a evolução da economia global em 2016.