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Vivemos o tempo de Natal, em transição para o novo ano. Um tempo que é sempre um convite para a reflexão, tanto de agradecimento e de esperança no renascer para o novo tempo que se inicia. Para se compreender o caminho trilhado, algumas vezes com dor, mas com a consciência de que temos de ser mais fortes do que as provações sentidas, olhando em frente com responsabilidade e força, amparados pelo olhar do futuro. Porque o Natal é a festa da vida, num momento que simbolicamente representa o mistério da existência humana, unindo a aflição à esperança, a dor à alegria.
É o tempo de perceber que o trabalho é sagrado, independentemente do tipo e da forma como é exercido, em que a honra e a alegria na sua partilha para o bem comum devem merecer o respeito de todos. Por isso mesmo é com preocupação que assistimos ao extremar da discussão sobre múltiplas questões laborais, sejam sobre reivindicações de setores diversos, ou ainda à parte mais sensível da mão de obra imigrante. Parece óbvio que face ao agravar contínuo da crise demográfica ao longo das últimas décadas, o recurso a mão de obra oriunda de países terceiros se tornou num facto incontornável para o presente e futuro do nosso desenvolvimento. Mas se deixarmos que a chegada destas pessoas seja realizada de forma descontrolada e exposta a mecanismos menos dignos, estaremos a honrar essa natureza única do trabalho e a proteger as pessoas enquanto tal? Era este o debate sereno que deveria acontecer, sem entrarmos em zonas fáceis de algum extremar da discussão política pública, em que todos parecem ter razão, com laivos emergentes de alguma suposta superioridade moral de alguns setores.
Porque este é um tempo de generosidade, devíamos ser ainda mais atentos e cuidadosos quando o que discutimos e postulamos tem na sua génese pessoas e a sua partilha social através do trabalho.